A incidência de infecção fúngica em neonatos tem aumentado nas últimas décadas, especialmente a partir do avanço nos cuidados intensivos e maior sobrevivência, e longas internações, dos prematuros de muito baixo peso (< 1000 g). A Candida albicans é a principal espécie a determinar infecções fúngicas em recém-nascidos (RN), produzindo 40- 70% dos casos de sepse fúngica, ou infecção fúngica invasiva (IFI) destes pacientes. Outras espécies, como Candida parapsilosis, Candida tropicalis e Candida grabata tem sido identificadas em Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN).
Trata-se de preocupação observada em todos os países, em face de elevada morbimortalidade resultante. A incidência de infecção fúngica é alta, atingindo cerca de 10% dos prematuros com menos de 1000 g. RN a termo sob cuidados intensivos prolongados também pode apresentar IFI.
Fatores de risco:
Além do imunocomprometimento próprio da prematuridade, são considerados fatores de risco para IFI:
• Procedimentos invasivos/ acessos vasculares centrais/ sondas vesicais/ drenos.
• Intubação traqueal
• Antibióticos de amplo espectro (especialmente cefalosporinas de 3ª geração e carbapenêmicos).
• Nutrição parenteral
• Uso de esteroides e bloqueadores H2.
• Cirurgia abdominal.
O cateter vascular central tem sido apontado como principal fator de risco para candidemia neonatal.
Manifestações clínicas:
São inespecíficas, como se observa nas demais septicemias neonatais, podendo ser sutis ou insidiosas;
• Distúrbio respiratório/ apneias.
• Instabilidade térmica e glicêmica.
• Hipoatividade.
• Distensão abdominal
A presença de candidíase mucocutânea pode favorecer o diagnóstico.
Métodos diagnósticos subsidiários:
• Plaquetopenia inexplicada.
• Leucopenia ou leucocitose/ neutropenia (< 1500/ mm³).
• Dilatações ventriculares, microembolias, abscessos cerebrais (Ecografia,TC).
• Hidronefrose por bola fúngica, abscesso renal (Eco).
• Endoftalmite/ retinite (oftalmoscopia).
Complicações:
Fato importante, e nem sempre valorizado, aponta que os prematuros sobreviventes de IFI apresentam maior risco para sequelas neuro-desenvolvimentais. Vale lembrar que a IFI, pela disseminação do fungo, ou candidemia, pode determinar:
• Meningite/ abscessos cerebrais (25-50% dos casos de IFI)
• Abscessos cardíacos/ vegetações fúngicas intracardíacas
• Pielonefrite
• Infecções de pele e tecidos moles
• Pneumonite
• Hepatite
• Colecistite
• Endoftalmite/ retinite (6% dos casos de IFI)
Percebe-se assim que o paciente sobrevivente de IFI pode apresentar, entre outros, também quadros futuros de insuficiência renal, cegueira e cardiopatia. A mortalidade decorrente de infecção fúngica invasiva (IFI) alcança 20- 75% dos casos, sendo inversamente proporcional à idade gestacional.
Tratamento:
Anfotericina B e fluconazol são os agentes mais utilizados. A indicação é empírica na maior parte dos casos, em face da sensibilidade baixa de culturas, exigindo elevado grau de suspeição diagnóstica. A flucitosina não tem sido recomendada em prematuros pela elevada nefrotoxicidade. Há poucos estudos com micafungina em RN.
A duração do tratamento antifúngico deve ser de 3 semanas, ou por 14 dias após a primeira hemocultura negativa. Meningite ou endocardite indicam tratamentos mais prolongados.
A retirada imediata de cateter central pode evitar infecção prolongada, reduzir mortalidade e prevenir sequelas.
A terapia antifúngica empírica tem demonstrado reduzir a mortalidade por IFS, porém não há comprovação de que previna sequelas neurológicas ou outras morbidades associadas a estas infecções.
Profilaxia antifúngica:
Indicada para prematuros com peso abaixo de 1000 g ao nascer, em unidades com alta incidência documentada de IFI. O ideal é monitorar em cada serviço a taxa de colonização dos prematuros por espécies de Candida, para definir protocolo de fluconazol profilático.
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