João Luiz Langer Manica*
Inicialmente descrita em 1967 por Tomisaku Kawasaki, é
atualmente a causa mais frequente de doença cardíaca adquirida em crianças nos
países desenvolvidos ultrapassando a febre reumática. A incidência anual em
descendentes japoneses é aproximadamente 150 para cada 100.000 crianças menores
de 5 anos e nos Estados Unidos afeta em torno de 10 a 15 a cada 100.000
crianças menores de 5 anos. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos, entretanto
algumas crianças de apresentam com a doença incompleta ou atípica. Nestes casos
o diagnóstico é desafiador e a incidência de doença coronariana parece ser mais
alta em comparação com os pacientes com apresentaçãoo clássica.
Na ausência de testes diagnósticos específicos ou sinais
clínicos patognomônicos, critérios clínicos foram estabelecidos com o intuito
de aumentar a acurácia diagnóstica e diminuir a incidência de complicações
relacionadas à doença.
O diagnóstico clássico é baseado na presença de febre por
pelo menos 5 dias e 4 ou mais das principais características durante a fase
aguda da doença:
-
Alteração de Extremidades:
Agudas: Eritema de palmas e solas,
edema de mãos e pés.
Subagudas: Descamação periungueal
das mãos e pés em aproximadamente 2 a 3 semanas.
-
Exantema polimorfo ou escarlatiniforme
-
Eritema conjuntival não exsudativo
-
Língua framboesiforme, eritema de orofaringe, fissuras e
eritema labial
-
Linfonodomegalia cervical
Tipicamente, todas as características não estão presentes
simultaneamente e a observação cuidadosa é necessária para o diagnóstico
adequado. Na presença de 4 ou mais dos
principais critérios, o diagnóstico de Kawasaki pode ser feito no 40 dia de doença.
A febre é geralmente alta e remitente (acima de 390).
Na ausência de tratamento, persiste por uma média de 11 dias. Com terapia
apropriada, a febre desaparece dentr de 2 dias.
O rash eritematoso geralmente aparece dentro de 5 dias do
ataque da febre, é não pririginoso e envolve o tronco e extremidades com
acentuação na região perineal. Erupções bolhosas e vesiculares praticamente
descartam a suseita de doença de Kawasaki.
A linfadennopatia cervical é o menos comum dos critérios
diagnósticos. Geralmente é
unilateral e classicamente
compromete mais de 1 linfonodo com diâmetros superiores a 1.5cm.
Outros achados clínicos que podem ocorrer na fase aguda da
doença que dura entre 1 e 2 semanas são miocardite, derrame pericárdico,
meningite asséptica, diarreia, disfunção hepática, uveíte e artrite e/ou
artralgia. A fase subaguda ocorre após o desaparecimento da febre, do rash e da
linfadenoatia, geralmente na segunda semana de doença e pode durar por até 4
semanas. Se caracteriza por descamação periungueal, trombocitose e aneurismas
coronarianos. Em 1% dos casos pode haver complicações neurológicas. Já a fase
de convalescença inicia com o desaparecimento dos sinais clínicos e dura
aproximadamente 6 a 8 semanas após o início da febre, até a normalização da
velocidade de hemossedimentação.
Manifestações Cardíacas: Pode haver miocardite com
disfunção ventricular, pericardite e/ou endocardite com comprometimento
valvular. Entretanto, as alterações coronarianas como dilatação, estenose ou
formação aneurismática são as mais frequentes acometendo 20 a 25% dos pacientes
não tratados e 5% dos pacientes tratados, principalmente nos lactentes menores
de 6 meses. Os aneurismas, de modo geral,
podem ser detectados por ecocardiografia em torno do 100 dia
de doença. O fator de risco mais importante para a formação de aneurismas
coronarianos é a duração febre a despeito do uso de IGIV. Outros possíveis
fatores de risco são VSG aumentado, anemia, hipoalbuminemia, sexo masculino,
idade inferior a 1 ano, hiponatremia e trombocitopenia.
Tratamento: O tratamento da doença de Kawasaki na fase
aguda visa diminuir a resposta
inflamatória na parede da artéria coronária e prevenir a vasculite e suas
consequências drásticas (trombose e
aneurisma). Já na fase subaguda e de convalescença tem por objetivo prevenir a
isquemia miocárdica e o infarto nos pacientes com acometimento cardiovascular.
A imunoglobulina intravenosa (IGIV) deve ser usada
preferencialmente nos primeiros 7 a 10 dias de doença com o objetivo de diminuir
a prevalência de anormalidades das artérias coronárias e abreviar a duração dos
sintomas clínicos. A utilização da IGIV antes do 50 dia não previne
as sequelas cardíacas mais do que o tratamento ente o 70 e o 100
dia. Os pacientes devem receber IGIV na
dose de 2g/Kg em infusão única durante o período de 10 a 12 horas. Pacientes
que persistem com febre após a infusão de IGIV devem receber nova dose da
medicação pois apresentam maior risco de alterações coronarianas.
O ácido
acetilsalicílico (AAS) deve ser usado em altas doses durante a fase aguda (80 a
100 mg/Kg/dia ÷ 4) para potencializar o efeito
anti-inflamatório da IGIV, porém não diminui a incidência de anormalidades
coronarianas. Deve ser utilizado até 48 a 72 horas de estado afebril, sendo
diminuída a dose para 3 a 5mg/Kg/dia por um período de 6 a 8 semanas a partir
do início da doença. Crianças com anormalidades cardíacas devem receber AAS em
doses baixas indefinidamente. Corticosteróides podem ser utilizados em
pacientes que não respondem a 2 doses de IGIV.
*Cardiologista Pediátrico
Nenhum comentário:
Postar um comentário