Profa Dra Mariana Bohns Michalowski *
O câncer na infância é uma
doença rara. O percentual mediano dos tumores pediátricos encontrados nos
registros de base populacional brasileiros situa-se próximo de 3%, o que
permite o cálculo estimado de 9.890 casos por ano de tumores pediátricos no
país. Apesar disso, sua importância tem sido cada vez maior já que em países
desenvolvidos trata-se da primeira causa
de morte por doença na infância.
Além disso, enquanto o câncer
de adulto representa uma perda de em média 20 anos de vida, um câncer na
infância, quando não curado, pode representar uma perda de 70 anos de vida.
Isto tem um custo pessoal, familiar e também social muito grande.
Dentro deste contexto, o
pediatra deve estar atento aos sinais e sintomas mais freqüentes dos cânceres
infantis para que possa aumentar as possibilidades de cura de seu paciente
através do diagnóstico precoce.
Enquanto as medidas para
melhorar as taxas de câncer de adultos incluem a prevenção que visam diminuir
basicamente a exposição a fatores de risco sabidamente carcinogênicos, como o
tabagismo, na infância os fatores
ambientais desempenham um papel muito pequeno. Dessa forma, não existem medidas
efetivas de prevenção primária para
impedir o desenvolvimento do câncer na faixa etária pediátrica. Como não
podemos agir neste ponto, a prevenção secundária, ou seja, o diagnóstico
precoce torna-se essencial.
As formas mais freqüentes de
câncer na infância e na adolescência são as leucemias, principalmente a
leucemia linfóide aguda. Já os tumores de Sistema Nervoso Central (SNC)
representam a neoplasia maligna sólida mais freqüente.
O que dificulta, em muitos
casos, a suspeita e o diagnóstico do câncer nas crianças e nos adolescentes é o
fato de sua apresentação clínica ocorrer através de sinais e sintomas que são
comuns a outras doenças mais freqüentes, manifestando-se através de sintomas gerais,
que não permitem a sua localização, como febre, vômitos, emagrecimento,
sangramentos, adenomegalias generalizadas, dor óssea generalizada e palidez.
Ou, ainda, através de sinais e sintomas de acometimento mais localizados, como cefaléias,
alterações da visão, dores abdominais e dores osteoarticulares.
O pediatra e o médico da ESF
devem considerar a possibilidade de malignidade na infância não somente porque
se trata de doença potencialmente fatal, mas porque o câncer é uma doença
potencialmente curável, dependendo do tipo e do estágio de apresentação. Os
estudos indicam que o diagnóstico de câncer pediátrico é freqüentemente
retardado devido à falha no reconhecimento dos sinais de apresentação.
São
sinais freqüentes:
a)
Febre: pode estar
presente no diagnóstico de várias neoplasias, manifestando-se como uma febre
persistente sem origem determinada
b)
Emagrecimento: as
neoplasias induzem catabolismo resultando em alteração de peso.
c)
Palidez: como
manifestação da anemia causada pela infiltração medular (como nas leucemias) ou
por sangramento (associado à plaquetopenia ou sangramento intra-tumoral)
d)
Sangramentos anormais:
manifestações cutâneas de sangramento não associadas a traumatismos como
petéquias ou hematomas espontâneos como sinais de plaquetopenia
e)
Dor generalizada: por
infiltração tumoral da medula óssea ou processos metastáticos
f)
Adenomegalias: são freqüentes
na infância e, em geral, associadas a processos infecciosos. As adenomegalias
neoplásicas devem ser suspeitadas quando observamos gânglios de mais de 3 cm de
diâmetro, endurecidos, indolores, aderidos e sem evidência de infecção na área
de drenagem.
No
Brasil se propõe atualmente algoritmos que auxiliam no diagnóstico precoce das
neoplasias mais freqüentes da infância que podem ser aplicados facilmente pelo
pediatra na sua prática diária.
Descrevo
aqui três destes algoritmos que abrangem as neoplasias mais freqüentes, a
saber, leucemias, linfomas e tumores de sistema nervoso central (SNC).
Figura 1. Quando suspeitar de leucemia
Figura 2. Quando
suspeitar de linfoma
Figura 3. Quando
suspeitar de Tumor de SNC ou retinoblastoma
Lembro
também que o aumento anormal e assimétrico de qualquer região (tórax ou
abdomem) ou membro deve fazer suspeitar de processo neoplásico.
E
atenção: “só faz um diagnóstico de câncer quem pensa em câncer”. A hipótese de
neoplasia deve fazer parte do diagnóstico diferencial para pacientes que
apresentem um desses sinais e sintomas comuns ao câncer na criança e no
adolescente.
* Professora Adjunta Departamento
Pediatria
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
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