segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dislipidemias na Infância e Adolescência

IntroduçãoOs principais lípides para o ser humano são: ácidos graxos, colesterol, triglicérides (TG) e fosfolípides (FL). Estas moléculas constituem a porção lipídica das lipoproteínas (LP) (forma de transporte dos lípides na circulação sanguínea). A outra parte das LP é constituída de proteínas especiais, denominadas apolipoproteínas ou apoproteínas (apo). Estas têm as seguintes funções: a) transporte dos lípides na corrente sanguínea; b) ligação com os receptores celulares; c) ativação de determinadas enzimas.

O colesterol é importante para a formação e função das membranas celulares e para síntese de sais biliares, de hormônios esteróides e da vitamina D. Os TG têm  papel energético , para utilização imediata ou após armazenamento, enquanto os FL são importantes para manter a integridade das membranas celulares e a solubilidade dos ésteres de colesterol e dos TG no interior das LP.

Classificação e Etiologia  
Dislipidemias primárias    Dislipidemias secundárias
Hipercolesterolemia familiar(heterozigótica e homozigótica) tipo IIa de FredricksonHipotireoidismo
Hipercolesterolemia familiar por apoB-100 defeituosaDiabetes
Hipercolesterolemia poligênicaObesidade
Sitosterolemia (excessiva absorção intestinal de esteróis derivados de plantas)Anorexia nervosa
Hiperlipidemia combinadaLipodistrofias
Hipertrigliceridemiafamiliar (hiperlipoproteinemia tipo I ou IV)Síndrome de Cushing
DisbetalipoproteinemiaDoenças renais (síndrome nefrótica, insuficiência renal)
Hipobetalipoproteinemia e abetalipoproteinemiasHepatopatias (hepatite, cirrose, colestase)
Doenças por deficiência de HDL (doença de Tangier, hipoalfalipoproteinemia familiar). Doenças de depósito (depósito de glicogênio,Tay Sachs, Nieman-Pick)
 (hiperlipoproteinemia tipo III)Alcoolismo
Hipobetalipoproteinemia e abetalipoproteinemiasMedicamentos: contraceptivos, anti-hipertensivos, anti-convulsivantes...

a faixa etária da infância e adolescência, as dislipidemias têm preocupado cada vez mais pediatras e nutrólogos, à medida que avança a epidemia de obesidade configurando-se em importante fator de risco para a geração e progressão da aterosclerose.

Avaliação Laboratorial

A 1º Diretriz de Prevenção de Aterosclerose na Infância e Adolescência preconiza que o screenning de triglicérides e o colesterol total e frações devem ser realizados em todos os adolescentes acima de 10 anos de idade e nas crianças entre 2 e 10 anos, quando existir:

1.pais ou avós com história de aterosclerose precoce (antes dos 55 anos de idade)
2.parentes de 1º grau com valores de colesterol total > 240 mg/dL e de triglicérides    >400 mg/dL;
3.outros fatores de risco, como diabete melito, infecção pelo HIV, síndrome nefrótica,  lúpus eritematoso sistêmico, obesidade.
4.história positiva de pancreatite aguda, xantomas eruptivos, arco corneano palpebral, xantomas em tornozelos, face dorsal das mãos e joelhos.
5.História familiar desconhecida.


Valores do perfil lipídico de crianças (acima de 2 anos) e adolescentes

Lipoproteínas (mg/dL)             Desejáveis        Limítrofes        Aumentados
Colesterol total                         < 150             150-169             >170
LDL-C                                    < 100             100-129             >130
HDL-C                                    > 45                 
Triglicérides                             < 100             100-129             >130


A amostra sanguínea para a análise completa do perfil lipídico deve ser obtida após jejum de 12 hs. As crianças devem manter a sua dieta habitual por pelo menos 2 semanas e não praticar exercício físico no dia anterior à coleta.

Conduta e Tratamento
A conduta e as recomendações para o tratamento baseiam-se na média dos valores obtidos de LDL-colesterol.
1. LDL-colesterol < 110 mg/dL
Recomendações de padrão alimentar saudável, controle de peso corporal e incentivo à atividade física. O tempo diante da televisão, videogame e computador deve ser limitado a 2 hs por dia. Repetir o perfil lipídico em 5 anos.
2. LDL-colesterol de 110 a 129 mg/dL.

     
Recomendações para a redução dos fatores de risco presente. Modificação do padrão                                           alimentar. Introdução de dieta com gordura de 25 a 35% do total calórico/dia (gordura  saturada até 10%, poliinsaturada 10%, monoinsaturada 20%), ácidos graxos trans até 1% do  valor energético total de lípides e colesterol até 300 mg/dia (dieta tipo 1). Reavaliação em 1 ano.
3. LDL-colesterol > 130 mg/dL
Avaliação clínica. Afastar causas secundárias de hiperlipidemias e rastreamento familiar. Introdução da dieta acima descrita. Caso após adesão adequada da dieta, por no mínimo 3 meses, houver falha em alcançar o alvo de LDL-colesterol < 130 mg/dl, inicia-se uma dieta com colesterol diário de 200 mg e gordura saturada na quantidade máxima de 7% do valor total de energia (dieta tipo 2).

Reavaliar em 6 semanas.

Nas hipertrigliceridemias graves é utilizado o mesmo esquema, acrescido da redução de carboidratos simples.
Nas quilomicronemias graves com grande risco de pancreatite, pode ser cogitado o uso de triglicérides de cadeia média (TCM) e/ou óleo de peixe.


Tratamento Medicamentoso
O tratamento com drogas hipolipemiantes é recomendável em crianças com idade superior  a 8 anos. De um modo geral recomenda-se a associação de dieta tipo 2 e fármacos hipolipemiantes quando são encontrados valores de LDL-colesterol acima de 190 mg/dL ou acima de 160 mg/dL na presença de fatores de risco, especialmente história familiar de doença cardiovascular prematura.
Os medicamentos usados no tratamento das hiperlipidemias atuam diretamente no aumento da excreção (sequestrantes dos ácidos biliares) ou do metabolismo da fração LDL do colesterol, reduzindo sua produção (estatinas).

Prevenção

•Utilizar menor proporção de gorduras saturadas em relação às mono e poli-insaturadas;
•Evitar alimentos preparados com gorduras trans-hidrogenadas;
•Aumentar consumo de fibras solúveis, principalmente pectinas (frutas) e gomas (aveia e leguminosas);
•Ingerir ao menos 5 a 6 porções de frutas e hortaliças ao dia;
•Consumir peixes em substituição a outras carnes;
•Dar preferência aos carboidratos complexos, reduzindo a proporção dos carboidratos simples.
A prevenção da aterosclerose deve ser iniciada na infância e o pediatra deve estar atento para identificar e intervir precocemente nos seus fatores de risco.

Claudia M. Zen
Pediatra e Nutróloga
pediatrazen@gmail.com


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