Dra Simone Fagondes*
O sono é uma
necessidade básica na vida, tão importante para o nosso bem estar como o ar, a
água e o alimento. Quando dormimos bem, acordamos dispostos, alertas e prontos
para os desafios do cotidiano. Mas, quando isto não ocorre, podemos ter sérias
conseqüências. A privação de sono pode ocorrer tanto devido à quantidade de
sono insuficiente como devido a problemas durante o sono.
Ter um sono contínuo
e de boa qualidade é essencial para que tenhamos uma boa qualidade de vida. É
importante ressaltar que esta necessidade vale também para as crianças.
Quantidade de sono
A quantidade de sono
necessária varia ao longo da vida. Recém- nascidos e lactentes necessitam
muitas horas de sono e tem vários períodos de sono ao longo das 24 horas. As sestas
são essenciais nesta etapa da vida e esta necessidade pode se manter até os 5
anos. Ao entrar na adolescência, verifica-se que o sono tende a ser deslocado
para um horário mais avançado da noite, mas persiste uma necessidade de sono em
torno de 9 horas. Ao atingir a fase adulta, mesmo ao atingir a maturidade, a
necessidade de sono permanece em torno de 7 a 9 horas por noite. É importante
salientar que, com o envelhecimento, os padrões de sono podem modificar mas a
necessidade de sono permanece a mesma.
Número
de horas de sono necessárias ao longo da vida
Recem-nascidos
e
Lactentes**
|
0-2
meses: 10.5 a 18.5 horas
2-12
meses: 14 a 15 horas
|
Pré-escolares
e
Escolares**
|
12-18
meses: 13 a 15 horas
18
meses- 3 anos: 12 a 14 horas
3-
5 anos: 11 a 13 horas
5
a 12 anos: 9 a 11 horas
|
Adolescentes
|
8.5
a 9.5 horas
|
Adultos
e idosos***
|
Média
de 7 a 9 horas
|
** Inclusive
sestas
*** Algumas
pessoas necessitam somente 4 horas de sono, outras até 10 horas de sono
Problemas de sono em crianças
Os
problemas de sono mais comuns em crianças são: transtornos comportamentais do
sono, parassonias, síndrome da apneia obstrutiva do sono e movimento periódico
de pernas. A seguir abordaremos os transtornos comportamentais do sono.
As
questões relacionadas ao sono da criança vão se modificando à medida que ela
cresce e vai transitando pelas várias fases do desenvolvimento. Resultam de uma
série de variáveis que vão desde o próprio temperamento da criança,
preferências circadianas individuais, expectativas e comportamento dos pais, ambiente
e composição familiar até valores culturais.
No
lactente, as questões mais freqüentemente apresentadas são os problemas para o
iniciar o sono e manter-se dormindo. Os despertares ocorrem normalmente em
todos os indivíduos na passagem de um ciclo de sono para outro. Normalmente
esses despertares são rápidos, e a criança deveria ter a capacidade de volta a
dormir sozinha. Algumas medidas profiláticas podem ser utilizadas para
incentivar este comportamento. O ritual prévio à hora de dormir deve ser iniciado
em torno dos 4 meses. Pode incluir banho, pijamas, canções de ninar, ambiente e
luz apropriada, e, mais tarde, histórias e outros. É importante que este ritual
ocorra logo antes do adormecer, mas que a criança seja deixada ainda acordada
em seu berço para que adormeça só. Caso contrário, quando ocorrerem os
despertares noturnos, a criança não será capaz de adormecer sem a presença de
um adulto. Objetos de transição devem ser incentivados. A mamadeira da madrugada deve ser retirada a
partir dos 6 meses, e a mamadeira logo antes de dormir deve ser evitada pela
questão associativa com o adormecer, além de favorecer cáries e otite média.
Estima-se que em torno de 50% das crianças com 1 ano apresentem dificuldades na
hora de dormir e 30% têm despertares noturnos problemáticos. A partir dos 12
meses, a aquisição crescente de habilidades cognitivas e da linguagem pode
acentuar problemas de resistência a ir para a cama. Pode tornar-se um meio de
testar os limites dos pais. A partir dos 2 a 3 anos, quando ocorre a transição do berço
para a cama, a habilidade de ir sozinha para a cama dos pais pode piorar o
problema dos despertares noturnos. O início de medos da noite pode coincidir
com o desenvolvimento da imaginação e da fantasia. Por outro lado, a compreensão
do significado simbólico dos objetos pode aumentar a confiança e o interesse
nos objetos de transição.
Na
idade escolar, os problemas na hora de dormir e os relacionados a despertares
noturnos permanecem freqüentes, ocorrendo em até 30% das crianças.
Nesta
idade podem surgir medos mais relacionados à realidade (medo de ladrões, por
exemplo). Outro problema que pode acontecer é o tempo de sono insuficiente, decorrente
da crescente independência da criança. Televisão e outros monitores eletrônicos
têm sido associados com dificuldades para adormecer e manter o sono, assim como
à maior prevalência de ansiedade e pesadelos noturnos. Durante este período da
vida começa a se manifestar a preferência circadiana individual (matutinos x vespertinos).
Esta tendência deve ser percebida e respeitada na medida do possível, ou seja,
preservando o tempo total de sono.
Na
puberdade, ocorre um aumento na necessidade de sono e um atraso de
aproximadamente 2 horas no horário de dormir, provavelmente pela associação de
um componente biológico a questões socioculturais. Além disso, a variação no
ciclo sono / vigília entre o fim de semana e os dias de semana, que já ocorria
no escolar, acentua-se nesta fase. Embora a necessidade de sono do adolescente
seja de, no mínimo, 9 horas por noite, estudos mostram que a maioria dos
adolescentes dorme em torno de 7 horas por noite, resultando numa privação
crônica de sono. Todos esses fatores combinados podem produzir sonolência
significativa durante o dia e conseqüente prejuízo no humor, memória, atenção e
aproveitamento escolar.
* Médica responsável pelo
ambulatório e laboratório do sono do HCPA
Preceptora do Programa de
Residência Médica em Pneumologia, com ênfase em transtornos do sono
Doutora em Pneumologia pela
UFRGS
Professora do Programa de
Pós-graduação em Ciências Pneumológicas da
UFRGS
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