José Carlos Fraga¹
A hérnia diafragmática
congênita (HDC) ocorre devido à persistência do canal
pleuroperitoneal, com passagem de vísceras abdominais para a cavidade torácica.
As vísceras herniadas comprimem o pulmão e ocasionam hipoplasia do parênquima e
dos vasos pulmonares. A prevalência da
HDC é de 1 caso para 3.000 a 5.000 nascidos vivos. Ela corresponde a 90% de
todas as anormalidades diafragmáticas que afetam o feto e recém-nascido.
Oitenta e cinco a 90% por cento são à esquerda, 10% a 15% à direita e 1-2%
bilaterais. Há leve predominância do sexo masculino. Anomalias associadas estão
presentes em 10% a 50% dos casos, sendo mais comuns as cardíacas (10%-30%),
genitourinárias, gastrointestinais, sistema nervoso central, esqueléticas e
anormalidades cromossômicas (trissomias 13,18 e 21, síndrome de Turner,
Cornélia de Lange e de Fryns). Quarenta a 60% dos casos são
diagnosticadas no período pré-natal. Os principais sinais evidenciados na
ultrassonografia (US) da HDC são a presença de alças intestinais e da bolha gástrica dentro
do tórax, desvio do mediastino e do coração para o lado contralateral, ausência
de bolha gástrica no abdome, peristaltismo presente no tórax.
Após o nascimento, o início dos sintomas
está relacionado com o grau de hipoplasia pulmonar e de hipertensão pulmonar.
Noventa por cento das hérnias são sintomáticas nas primeiras 24 horas.
Recém-nascido sintomático nas primeiras 6 horas de vida é considerado de alto
risco, sendo fator prognóstico de mortalidade. Os principais sintomas e sinais
são: sofrimento respiratório (taquipnéia, retrações, cianose), hemitórax
afetado abaulado, abdome escafoide, dextrocardia para o lado contralateral ao
da hérnia, ausência ou diminuição do murmúrio vesicular, diminuição dos ruídos
hidroaéreos abdominais. As principais manifestações tardias da hérnia são:
obstrução intestinal, retardo de crescimento, estrangulamento e/ou perfuração
de víscera oca intratorácica (principalmente estômago), pneumonias de
repetição. Radiografias de tórax mostram desvio do mediastino para o lado
contralateral, imagens císticas aéreas compatíveis com o padrão radiológico de
alças intestinais no hemitórax. Com hérnia direita, alças intestinais podem
também causar esse padrão de imagens císticas, embora o fígado possa bloquear a
passagem das mesmas para dentro do tórax. A radiografia de abdome mostra
diminuição de ar no abdome. Na dúvida diagnóstica pode ser realizada
radiografia contrastada do tubo digestivo alto (esôfago, estômago e duodeno).
Os princípios básicos da ressuscitação e estabilização do recém-nascido
com HDC são baseados na intubação precoce, ventilação com pressão positiva
menor do que 25 cm H2O, evitando a ventilação com máscara, e assim
prevenindo a distensão gasosa do intestino, que se encontra no tórax. Procedimentos
adicionais devem incluir a passagem de SNG no10, com aspirações
frequentes, medida da saturação pré-ductal (membro superior direito) e
pós-ductal (qualquer outro membro), e a manutenção da temperatura corporal. Ecocardiografia
com doppler deve ser realizada em todos os casos para identificar a presença de
doença cardíaca estrutural, determinar se há hipoplasia do coração, estimar a
pressão da artéria pulmonar, grau de shunt
e definir o momento ideal da cirurgia. Quando houver necessidade de ventilação
mecânica, a mesma deve ser iniciada com pico de pressão inspiratória limitada
(< 25 cm H2O) para evitar barotrauma, estimulando a ventilação
espontânea, tolerando uma saturação (SaO2) pré-ductal de 85% e
permitindo hipercapnia pré-ductal com
PaCO2 < 65 mmHg. Quando há hipertensão pulmonar e/ou
hipotensão sistêmica, agentes inotrópicos (dopamina e/ou dobutamina) devem ser
usados para elevar a pressão arterial sistêmica acima da pressão pulmonar e
assim diminuir o shunt D®E. A
sedação deve ser mínima e tem como objetivo minimizar os efeitos da
estimulação ambiental e desconforto do tratamento. O uso de surfactantes não é indicado.
A correção cirúrgica da HDC não deve ser realizada logo após o
nascimento, pois a cirurgia retardada proporciona tempo para estabilização
clínica, tornando o bebê mais estável, capaz de tolerar a diminuição na
complacência toracopulmonar pós-operatória. O momento ideal para a correção
cirúrgica é controverso. O período de preparo pré-operatório é muito variável e
ainda em investigação (geralmente entre 4 e 8 dias, podendo atingir até 3
semanas). O reparo cirúrgico deve ser retardado até que sejam alcançados os seguintes
parâmetros: diferença da PaO2 pré-ductal e pós-ductal menor do que
10 mmHg entre dosagens simultâneas, estabilidade hemodinâmica (pressão arterial
e frequência cardíaca estáveis, perfusão periférica adequada), PaCO2
< 60 mmHg, saturação pré-ductal ³
85% com FiO2 < 50%, exame ecocardiográfico com melhora da
hipertensão pulmonar e ausência de shunt
ou shunt bidirecional E®D dominante.
Os objetivos do tratamento cirúrgico são redução do conteúdo
herniado e fechamento do defeito diafragmático. O tratamento convencional é
realizado pelo abdome, e com incisão subcostal. Pequenos defeitos
diafragmáticos devem ser fechados com pontos não absorvíveis separados em forma
de U, e grandes defeitos com telas sintéticas ou retalhos musculares. Se houver
saco herniário presente, o mesmo deve ser ressecado. Dreno torácico pós-operatório
não precisa geralmente ser usado.
A sobrevida
global da HDC operada é de 40% a 70%. Os sobreviventes de HDC
têm alta incidência de complicações respiratórias crônicas (30 a 50%), HP
residual ou recorrente, nutricionais, musculoesqueléticas (pectus excavatum e
escoliose), neurológicas (retardo de desenvolvimento, perda da audição) e
gastrointestinais (RGE, obstrução intestinal por bridas), bem como recorrência
da hérnia.
¹ Professor
Associado de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Cirurgião do Setor de
Cirurgia Torácica Infantil e Chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Minha filha Cecília teve HDC. Foi o dr.Fraga que a operou no hospital moinhos de vento.
ResponderExcluirmeu filho Diego tbm teve HDC, Foi operado pelo Dr° Claudio, no Hospital de Clinicas, em Curitiba - PR
ResponderExcluirEles estão bem?????
ResponderExcluirMinha irmã esta com o nenem dela internado e estamos entregando na mão de Deus. Ele ainda não fez cirurgia.
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