Rosane da Cruz Ferreira - Oftalmologia Pediátrica*
Lei Municipal e
Estadual exigem o exame ocular antes da alta hospitalar
O “teste do olhinho”
(ou teste do reflexo vermelho) recentemente virou lei no Município de Porto
Alegre e no estado do Rio Grande do Sul e está evitando que centenas de
crianças fiquem cegas.
É um teste rápido e
indolor que se baseia na percepção do reflexo vermelho que aparece ao ser
incidido um feixe de luz sob a superfície retiniana. Para que este reflexo
possa ser visto, é necessário que o eixo óptico esteja livre, isto é, sem
nenhum obstáculo à entrada e à saída de luz pelo orifício pupilar. Assim, o
“TESTE DO OLHINHO” pode detectar qualquer patologia que cause obstrução no eixo
visual como catarata, glaucoma congênito e qualquer outra patologia ocular que
cause opacidade de meios, como opacidades congênitas de córnea, tumores intra-oculares
grandes, inflamações intra-oculares importantes ou hemorragias intra-vítreas.
O exame deve ser
realizado antes de o bebê ter alta hospitalar, por um pediatra treinado, e que deve
ser remunerado para tal função.Apesar do teste ser simples, confere ao pediatra
imensa responsabilidade na hora de emitir o seu parecer.
TÉCNICA:
O teste pode ser
realizado em menos de 5 minutos. Não está indicado uso de colírios para
realização do teste, pelos possíveis efeitos adversos no recém-nascido.
O único equipamento
necessário é um oftalmoscópio direto (não adianta só uma lanterninha). Para
simplificar, melhor colocar o foco do oftalmoscópio na posição “zero”. A sala
do exame deve ser escurecida, e um auxiliar deve segurar com delicadeza a
cabeça do bebê. O oftalmoscópio deve ser posicionado a uma distância de
aproximadamente 30 cm de cada olho do bebê, e o reflexo vermelho deve ser visto
homogêneo e simétrico em ambos os olhos.
Ao contrário do que é
divulgado, o teste não é assim tão fácil de ser realizado, pois o recém nascido
tem muitas vezes as pálpebras um pouco edemaciadas e é difícil até abrir os
olhinhos dele. Se possível, melhor esperar e não fazer logo nas primeiras horas
do nascimento. Outra dificuldade é o tamanho das pupilas do recém-nascido, que
muitas vezes é bem pequeninha. Quanto mais difícil o exame, mais escura deve
estar a sala. Vários cursos para treinamento para realização do teste do
olhinho já foram ministrados em Porto Alegre, mas para quem não pode fazer, o
ideal é “treinar” com os pacientinhos maiores no consultório, antes de começar
a fazer no recém-nascido.
Quando o pediatra
conseguir identificar o reflexo vermelho de ambos os olhos, de forma homogênea
o resultado é “normal”. Se tiver dificuldade, o resultado deve ser anotado como
“duvidoso” e se o reflexo não estiver presente, como anormal. Evitar palavras
como “positivo” ou “negativo” para evitar confusão.
Os bebês com testes
com resultado anormal ou duvidoso devem ser encaminhados imediatamente para o
oftalmologista, que deve fazer o diagnóstico final. O pediatra não tem que se
preocupar com o diagnóstico, somente com o resultado normal ou não do exame.
FIGURAS do teste do olhinho sendo realizado e do reflexo vermelho não
homogêneo, em caso de catarata parcial.
*Mestre pela UNIFESP e Doutora pela UNIFESP/University of Colorado,
Denver, USA.
Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica 2005-7.
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