Manoel Antonio da Silva Ribeiro*
A síndrome de aspiração de mecônio (SAM)
caracteriza-se pela presença de insuficiência
respiratória em recém-nascido com líquido amniótico meconial, onde os sintomas
não podem ser atribuídos a outras causas. A severidade do quadro é variável. A
SAM acomete 2 a 10% de todos os recém-nascidos com líquido amniótico meconial.
Os pricipais fatores de risco para SAM são:
pós-datismo, PIG, decendentes africanos e asiáticos.
FISIOPATOLOGIA
A SAM está relacionada com a passagem
de mecônio para a cavidade intra-uterina, aspiração deste pelo feto e surgimento
de doença pulmonar, podendo resultar em hipoxemia, acidose e hipertensão
pulmonar. A doença pulmonar surge pela aspiração do mecônio, a qual interfere
com as funções respiratórias normais. Isto ocorre devido à obstrução das vias
aéreas, da irritação química, do desencadeamento do processo inflamatório no
tecido pulmonar e nos efeitos deletérios no metabolismo do surfactante
(inativação e diminuição da produção). A hipertensão pulmonar é um quadro que
frequentemente acompanha os casos severos de SAM e contribui para o agravamento
da hipoxemia (Figura 1).
QUADRO
CLÍNICO
- História de líquido amniótico meconial ou evidência
de mecônio no exame físico do recém-nascido (impregnação do vérnix, unhas ou
cordão umbilical).
-Depressão respiratória ou neurológica ao nascimento.
- Pós-maturidade ou PIG.
- Sintomas respiratórios logo após o nascimento:
gemido expiratório, batimento de asas do nariz, taquipneia, cianose, uso da
musculatura respiratória acessória (retrações intercostais e subxifoideia,
respiração paradoxal), aumento do diâmetro antero-posterior do tórax (tórax em
barril).
- Ausculta pulmonar é inespecífica, apresentando, mais
comumente, roncos pulmonares.
- Escape aéreo:
pneumotórax, pneumomediastino (10 a 30% dos casos).
- Hiperetensão pulmonar persistente: caracterizando a
presença de um shunt direita-esquerda
DIAGNÓSTICO
E AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR
Evidenciado pelo quadro de desconforto respiratório e
pela presença de mecônio, frequentemente acompanhado por alterações
radiológicas.
Na radiografia pode ser observado hiperinsuflação
pulmonar, retificação do diafragma, infiltrado pulmonar grosseiro não uniforme,
estendendo-se do hilo para a periferia, presença de pneumomediatino e/ou
pneumotórax.
A gasometria arterial é útil para acessar o estado
respiratório do paciente e a indicação do suporte ventilatório. Pode ser
observado hipoxemia e hipercapnia, as quais não são exclusivas da SAM. A
gasometria em hiperóxia pode demonstrar a presença de um shunt direita-esquerda.
A ecocardiografia permite excuir cardiopatias
congênitas cianóticas e identificar a presença de hipertensão pulmonar
DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL
Taquipnéia transitória do recém-nascido, adaptação
respiratória prolongada , pneumonia congênita, outras causas de hipertensão
pulmonar do recém-nascido, septicemia,
cardiopatias congênitas cianóticas e pneumotórax por outras causas.
PREVENÇÃO
- Detecção da hipoxemia fetal: monitorização rigorosa
da frequência cardíaca fetal, especialmente os casos de pós-maturidade e de
retardo de crescimento intra-uterino.
- Pós-maturidade: apesar de controverso, alguns
autores indicam a indução do parto em gestações com mais de 41 semanas.
- Amnioinfusão: consiste na infusão de um fluido isotônico na
cavidade amniótica com líquido mecônial, tendo o objetivo de diluí-lo. Não é um
procedimento realizado rotineiramente.
- Atendimento ao recém-nascido em sala de parto:
indica-se a aspiração traqueal sob visualização direta em recém-nascido não
vigoroso. Em outras palavras, está indicada a laringoscopia e intubação
traqueal em recém-nascidos que estão em apneia ou gasping e/ou hipotônico e/ou bradicárdico (< 100 batimentos por
minuto).
TRATAMENTO
É de suporte.
1-
manutenção em ambiente térmico neutro (exceto
para os casos de encefalopatia hipóxico-isquêmica, que está indicado o uso de
hipotermia).
2-
correção dos distúrbios metabólicos e
eletrolíticos: a hipoglicemia e a acidose aumentam o consumo de oxigênio.
3-
manuseio mínimo
4-
suporte
respiratório: controlar a oxigenação e a ventilação. Procura-se manter a
saturação de oxigênio (SatO2) acima de 90%, o que corresponderia a
uma PaO2 entre 55 e 90 mmHg, valores estes que promoveriam uma adequada oxigenação tissular
sem causar lesão pulmonar. Para uma assistência respiratória adequada pode
estar indicado, conforme o caso, oxigenioterapia, uso ventilação mecânica
assistida, ventilação de alta frequência (HFV), surfactante, óxido nítrico, sildenafil
e ECMO.
A ventilação mecânica é necessária em cerca de 30% dos
casos de SAM. O seu objetivo é possibilitar uma ótima troca gasosa com mínimo
trauma ao parênquima pulmonar. Busca-se atingir uma PaO2 entre 55 e
90 mmHg (Sat O2 > 90%) e PaCO2 entre 50 e 55 mmHg,
desde que o pH esteja > 7,25. Por sua vez, quando houver falha na ventilação
mecânica assistida, a HFV está indicada.
O surfactante exógeno pode diminuir a severidade da
doença respiratória e tem sido associado a menor necessidade de ECMO. Indicado
quando o recém-nascido encontra-se em ventilação mecânica, com FiO2 >
0,5 e pressão média de vias aéreas altas (> 10-12 cmH2O). A dose
recomendada é de 150 mg/dl. Alguns centros utilizam a lavagem pulmonar com
surfactante.
O óxido nítrico é um vasodilatador pulmonar seletivo
administrado sob a forma inalada e está indicado nos casos de hipertensão
pulmonar.
5-
sedação: indicada quando há necessidade de
ventilar o recém-nascido e o mesmo encontra-se competindo com o respirador.
Recomenda-se o uso de Morfina (ataque:
100-150 mg/kg em 1 hora e 10-20 mcg/kg/h em infusão contínua) ou Fentanil (1,5
mcg/kg/h). A utilização de paralisantes musculares, como o Pancurônio, fica
reservado apenas para os casos de dissincronia respiratória persistente, após o
uso de sedação, uma vez que os seus efeitos adversos são severos.
6-
controle da pressão arterial e suporte
circulatório:
- manter volume vascular: realizar
expansão volumétrica com solução fisiológica se hipotensão ou evidência de
perfusão ruim.
- iniciar com sódio após 24 horas de vida.
- manter hemoglobina > 15mg/dl
(hematócrito entre 40-45%)
- utilizar vasopressores caso necessite
manter a pressão arterial adequada: Dopamina e/ou Dobutamina.
7- Antibióticos: apesar de não haver
evidências a favor de seu empregos, recomenda-se sua utilização em razão de não
poder diferenciar a SAM de uma pneumonia congênita e pelo risco de haver uma
sobreinfecção bacteriana no parênquima pulmonar alterado.
* Membro do staff
da UTI Neonatal do Hospital São Lucas da PUCRS
Coordenador
da RGN – SPRS
Mestre em Pediatria
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