quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Esofagite eosinofílica

Esofagite eosinofílica (EoE)  é uma entidade clinicopatológica, que se caracteriza por apresentar  sintomas similares aos da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e infiltrado eosinofílico no epitélio esofágico. EoE é uma doença emergente no mundo inteiro, como documentada em muitos países. Há dúvidas se a EoE é uma nova doença ou uma nova classificação de uma desordem esofágica antiga.

As novas evidências promovem dados, mostrando que a EoE parece ser um processo imunológico, dirigido por antígenos, com múltiplos caminhos patogênicos. Uma nova definição conceitual foi proposta, apresentando a EoE como uma doença crônica, imunomediada, caracterizada clinicamente por sintomas relacionados à disfunção esofágica e histologicamente por inflamação eosinofílica.

Os sintomas da EoE são também observados em pacientes com esofagite péptica crônica, mas ao contrário da DRGE, a EoE é associada com pHmetria normal, ocorre mais frequentemente em homens (75 a 80%), parece ter uma incidência familiar aumentada e associação com doenças atópicas.  Afeta todos os grupos etários, mas foi descrita primeiramente em crianças.    Os estudos recentes mostram que cada vez mais se diagnostica  EoE em crianças e em adultos, mas a real epidemiologia da doença é desconhecida.   Dados epidemiológicos indicam que EoE é atualmente a segunda causa de esofagite crônica, depois da DRGE, e causa  frequente de disfagia.

A EE pode ocorrer em qualquer idade, e tem predominância no sexo masculino (2 - 4:1), sem que saiba a causa dessa maior incidência em meninos. Disfagia, impactação alimentar (comida que tranca e fica parada no esôfago)  e vômitos são os sintomas mais comumente observados, principalmente em adolescentes e pré-adolescentes. Em crianças menores, os sintomas podem ser variáveis e subjetivos como recusa alimentar, náuseas, vômitos, dor abdominal e/ou torácica, tosse crônica e broncoespasmo. O quadro clínico é muito similar ao da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), podendo haver também achados endoscópicos e histológicos semelhantes.

Grande parte dos pacientes é portadora também de asma ou de broncoespasmo, ou  outras manifestações alérgicas, como rinite e dermatite atópica.

Sugere-se um  componente genético potencial , além da predominância em homens, pois é mais frequente em caucasianos e tem muitos casos familiares. . Descrevem-se agrupamentos familiares, mas o locus exato de suscetibilidade ainda não é conhecido.

É mais frequente nas áreas urbanas do que nas rurais.  A prevalência da  EoE é bastante variável na população adulta; sendo alta nos pacientes com disfagia, baixa em estudos populacionais e intermediária entre pacientes não-selecionados, que são submetidos à endoscopia. O aumento de prevalência é provavelmente similar ao que ocorreu com outras doenças atópicas, como asma e dermatite atópica.

O aumento dramático da prevalência da  EoE nas últimas décadas, fornece dados aos clínicos para explicar casos em que a comida tranca e para no esôfago (impactação alimentar), disfagia, azia, dor torácica, vômitos e dor abdominal, antes não esclarecidos.

De acordo com os guidelines, a EoE só pode ser diagnosticada por endoscopia e biópsias, com o achado de 15 ou mais  eosinófilos por campo de grande aumento (cga) de tecido esofágico, depois de tratamento agressivo para DRGE.  Não pode haver eosinofilia em outros locais, somente localizada no esôfago.

A esofagogastroduodenoscopia (EGD)  com biópsias  e o exame histológico da mucosa esofágica são requeridas para estabelecer o diagnóstico de EoE, verificar a resposta ao tratamento, assessorar a remissão da doença, documentar e dilatar estenoses e avaliar recorrência dos sintomas. São necessárias biópsias de estômago e duodeno que devem ser normais, sem eosinofilia.

Endoscopias repetidas com biópsias são necessárias para monitorar a progressão da doença, assim como a eficácia do tratamento.

O tratamento clínico tem sido empírico, incluindo o uso de corticóides tópicos, antagonistas de receptores dos leucotrienos, dietas de eliminação (fórmulas de aminoácidos) ou dietas de restrição (exclusão de grupos de alimentos da dieta)

Em geral, existem dois tipos  de tratamento: dieta ou medicamentos. O tratamento da EoE, na maioria das crianças, é baseado em dieta elementar ou na eliminação de um ou de vários antígenos alimentares. A dieta pode ser elementar, com fórmula de aminoácidos, pode ser exclusão dos 6 alimentos mais alergênicos (leite, soja, ovo, frutos do mar, nozes , trigo) ou pode ser dieta dirigida por testes de alergia.

Nas crianças mais velhas e nos adultos, o tratamento usualmente envolve corticoides tópicos. A monitorização do tratamento requer endoscopias seriadas com biópsias esofágicas.
Houve alguns estudos randomizados e controlados, investigando qual é o melhor tratamento para EoE, mas há uma falta de dados para esclarecer qual é a história natural da doença e o que acontece em longo prazo com os pacientes não tratados. A história natural ainda não está bem definida, mas os estudos de mais longo prazo têm mostrado um curso persistente ou recorrente em mais de 90% dos casos de EoE.

As opções devem ser tomadas de acordo com cada caso, levado em consideração a resposta ao tratamento, as atopias e as características de cada paciente. A visão multidisciplinar da doença é fundamental devido às suas frequentes associações com doenças atópicas. É essencial coordenar o trabalho do gastroenterologista com o alergista e, envolver, quando há restrições alimentares , o nutricionista.

Cristina Helena Targa Ferreira

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