terça-feira, 11 de setembro de 2012

Pesquisa da mutação G985A da MCAD



Artigo gentilmente cedido pelos Dr. Eurico Camargo Neto e Dra. Fabiana Amorin do CTN Diagnósticos.

NOME: Deficiência da desidrogenase das acil-CoA dos ácidos graxos de cadeia média (MCAD).

CONCEITO: É um erro inato do metabolismo que interfere na utilização dos ácidos graxos (AG) como fonte de energia para o organismo. É uma doença genética potencialmente fatal que pode provocar o quadro da Síndrome da Morte Súbita na Infância.

IDADE DE APARECIMENTO DOS SINTOMAS: A primeira crise metabólica ocorre em geral entre o quarto e o décimo quinto mês de vida, sendo letal em 40% das crianças que manifestam os sintomas antes dos 2 anos de vida.

SINTOMAS CLÍNICOS: A criança com deficiência da MCAD tem história de uma ou mais crises metabólicas. Esta crise em geral é associada a um episódio infeccioso seguido de vômito, diarréia e diminuição da ingesta oral. O curso clínico é sempre o mesmo, com distúrbio da consciência, letargia, e coma. Na chegada ao hospital, a criança pode estar comatosa, hipoglicêmica e, freqüentemente, não há corpos cetônicos na urina. Esta criança geralmente é assintomática entre as crises.

COMPLICAÇÕES: Os pacientes, além de correrem risco de vida, podem mostrar deficiência no desenvolvimento, problemas comportamentais, atraso na fala e da linguagem e falta de atenção. Sintomas crônicos também já foram relatados, como fraqueza muscular proximal, convulsões, paralisia cerebral e retardo do crescimento. A demora em reconhecer a doença e em iniciar o tratamento adequado expõe estes pacientes ao risco de deficiência mental.

ETIOLOGIA: Este é um distúrbio genético, autossômico recessivo, causado pela deficiência de uma enzima mitocondrial (MCAD), essencial para a oxidação dos ácidos graxos. Cerca de 90% dos pacientes apresentam a mutação G985A em pelo menos um dos alelos, o que possibilita a sua detecção por técnicas de biologia molecular.

PATOGÊNESE: Com a deficiência da MCAD, o indivíduo não consegue metabolizar os ácidos graxos de cadeia média (6 a 12 carbonos), podendo levar o paciente à hipoglicemia. A utilização dos ácidos graxos é essencial na produção de energia, especialmente durante períodos de estresse (infecções, jejum) quando o aporte de alimentos é baixo. Durante estes episódios, os músculos (incluindo o coração) utilizam a gordura armazenada como fonte de energia e a glicose é preservada para as necessidades de outros tecidos, como o cérebro e os glóbulos vermelhos.

DIAGNÓSTICO: A doença pode ser identificada pelo aumento dos ácidos graxos de cadeia média na urina, medido por cromatografia gasosa, ou pela elevação das acilcarnitinas no sangue, através de espectrometria de massa. A deficiência da MCAD também pode ser detectada diretamente pela pesquisa da mutação G985A, pela análise molecular por PCR em gotas de sangue colhidas em papel filtro, método capaz de detectar mais de 85% dos casos positivos.

FREQUÊNCIA: 1 heterozigoto em cada 262 pacientes.

PREVENÇÃO: O diagnóstico precoce através de triagem neonatal e o tratamento adequado podem evitar o aparecimento das crises metabólicas e as suas conseqüências.


DETECÇÃO DE PORTADORES: A detecção de portadores é possível mediante análise molecular para pesquisa da mutação G985A, em amostras de sangue periférico ou em líquido amniótico.

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: Em famílias com história prévia de indivíduos afetados pela deficiência da MCAD é possível realizar o diagnóstico pré-natal em líquido amniótico ou vilosidade coriônica, pela análise molecular.

TRATAMENTO: Simples e de baixo custo. Deve-se evitar grandes períodos de jejum e proporcionar um adequado suporte calórico na dieta, mantendo-se os níveis de glicose dentro dos limites de normalidade. Durante episódios agudos de jejum ou vômito, a infusão intravenosa de glicose e a suplementação de L-carnitina levam a uma rápida recuperação.

PROGNÓSTICO: Quando seguidas as medidas recomendadas, o tratamento é eficiente, previne as manifestações clínicas da doença e o prognóstico é muito bom.

OBSERVAÇÕES: A deficiência da MCAD já foi apontada como uma das responsáveis pela Síndrome da Morte Súbita na Infância, bem como confundida com a Síndrome de Reye, pela semelhança dos sintomas. Apesar de vários estudos realizados não conseguirem provar estas associações, ainda se considera prudente investigar as famílias com história da doença para a deficiência da MCAD.

REFERÊNCIAS:
1. Di Donato, S. Diseases associated with defects of Beta-oxidation. In: Rosenberg,R.; Prusiner, S.; Barch,R. eds. The Molecular and Genetics Basis of Neurological Disease, 2th ed., Butterworth, Heinemann. 1997.

2. Gregersen, N.; Winter, V.; Kolvraa, S.; Andresen, B.; Bross, P.; Blakemore, A.; Curtis, D.; Bolund, L. Molecular analysis of medium chain acyl-CoA dehydrogenase deficiency: a diagnosis approach. In: Coates, P.M.; Tanaka, K. eds. New developments in fatty acid oxidation. New York, Wiley-Lis, p.441-452. 1992.

3. Roe, C. R.; Cotes, P. M. Mitochondrial fatty acid oxidation disorders. In: Scriver, C.R.; Beaudet, A.L.; Sly, W.S.; Vale, D. eds. The Metabolic and Molecular Basis of Inherited Disease, McGraw Hill, New York, 7th ed., 1995.

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