Paulo
Márcio Pitrez*
A asma é a doença crônica mais comum na
criança, caracterizando-se por sintomas e exacerbações frequentes, consultas
médicas em emergência, limitações aos exercícios, sintomas noturnos, perdas
escolares, podendo comprometer o aspecto emocional da criança, e oferecendo importante
dano à qualidade de vida. O manejo inadequado da doença gera gastos
substanciais para a sociedade e órgãos públicos. No Brasil, estima-se que 15%
das crianças em idade escolar são portadoras da doença (aproximadamente 7
milhões de crianças). Em todas as faixas etárias, morrem 6 pacientes por dia de
asma no país. Estes números demonstram o tremendo impacto desta doença no país.
O pediatra deve, de forma personalizada, realizar
o diagnóstico correto (excluindo outras doenças) e escolher o melhor tratamento
profilático, frente ao espectro de gravidade, dominando totalmente a orientação
quanto as técnicas de inaloterapia e o controle da adesão ao tratamento. Deve
ser sempre priorizada a prevenção das “crises” e dos sintomas. A asma moderada-grave
ocupa a porção dos casos que mais demanda atendimento médico e custos. Segundo
as principais diretrizes internacionais para o manejo da asma, o corticóide
inalatório (CI), o anti-leucotrieno e o beta-2 agonista de longa ação (LABA) são
os fármacos mais eficazes para controle da asma moderada-grave. Com este
arsenal terapêutico, é possível atingir o controle da doença na grande maioria
dos casos (>90% dos pacientes). O testes terapêuticos são a base do manejo
medicamentoso. O uso de CI em doses baixas a moderadas, do anti-leucotrieno
(Montelucaste), ou a associação dos dois deve ser a linha de frente da
prescrição da asma leve a moderada em crianças pelo pediatra. O LABA e outras
terapias devem ser reservadas mais para o ambiente do especialista. Nas
exacerbações, o beta-2 agonistas de curta ação deve ser sempre utilizado,
restringindo o corticóide oral para os casos de maior gravidade. A melhor forma
de administrar medicação inalatória é através de spray com espaçador ou
inaladores de pó seco.
É interessante destacar que,
mais do qualquer resultado de exame (ex: função pulmonar), a avaliação do
controle da doença e da qualidade de vida da criança são as ferramentas mais
importantes para o sucesso do tratamento. Esta avaliação é bastante focada em
detalhada anamnese a cada consulta de avaliação, com ênfase no controle da
doença, atividades diárias, lazer, aspectos emocionais, familiares e escolares.
Medidas de controle ambiental (higiene básica do domicílio e prevenção do
tabagismo ativo e passivo) são importantes. Também central no atendimento deste
tipo de paciente, a educação sobre a doença é peça fundamental no manejo,
orientando sobre a eficácia e segurança das terapias prescritas e derrubando
mitos sobre asma, estes tão enraizados na população. Por fim, e não menos
importante, é desafio do pediatra e de suas sociedades representativas também lutarem
como classe para que o tratamento medicamentoso da asma seja oferecido
universalmente às populações carentes no Brasil pelos gestores públicos em
saúde e para que contínuas campanhas de educação façam com que a população
torne-se cada vez mais familiarizada com esta doença tão prevalente e prejudicial
às crianças.
* Professor da Faculdade de Medicina da
PUCRS, Diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS e Pneumologista
Pediátrico do Hospital São Lucas da PUCRS.
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