Artigo gentilmente cedido pelos Dr. Eurico Camargo Neto
e Dra. Fabiana Amorin do CTN Diagnósticos.
CONCEITO: É uma
doença causada pela deficiência (parcial ou total) da enzima que libera dos
alimentos e de proteínas orgânicas a biotina (ou vitamina H). A biotina é um
cofator essencial para a atividade de diversas enzimas com função de
carboxilases.
IDADE DE APARECIMENTO
DOS SINTOMAS: Pode variar de 1 semana a 2 anos, com média em geral ao redor
dos 5 meses. Já foram, no entanto, descritos pacientes que iniciaram os
sintomas ao redor dos 10 anos.
SINTOMAS CLÍNICOS:
Os sintomas clínicos mais comuns são convulsões, hipotonia, ataxia, problemas
respiratórios, atrofia óptica, retardo mental, perda auditiva sensorial,
alopécia e erupção cutânea. Existe grande variabilidade de manifestação
clínica, sendo que as deficiências parciais são de diagnóstico difícil a partir
dos sintomas.
COMPLICAÇÕES: A
principal complicação da deficiência de biotinidase não tratada é o retardo
mental. Estes pacientes também podem apresentar uma função imunológica anormal,
que leva a infecções de repetição. Também já foram descritos pacientes com
perda da visão, e outros que evoluíram para paraparesia espástica.
ETIOLOGIA: A
deficiência de biotinidase é um distúrbio herdado de modo autossômico
recessivo, causado por mutações no gene que codifica a enzima.
PATOGÊNESE: A função
da biotinidase é liberar dos alimentos e das proteínas endógenas a biotina
ligada à proteína ou aos peptídeos. A biotina tem a função de ativar enzimas,
ou seja, é uma coenzima com propriedade de transportar grupos carboxílicos
(-COOH), importantes nas reações de carboxilação. As enzimas
biotina-dependentes recebem o nome genérico de carboxilases. Para se tornarem
ativas, necessitam de ligação com a biotina, sendo conhecidas como
holocarboxilases. São elas: acetil-CoA carboxilase, piruvato carboxilase,
propionil-CoA carboxilase e ß-metilcrotonil-CoA carboxilase. Como cofatores
dessas enzimas, a biotina está envolvida nos processos de síntese de ácidos
graxos, gliconeogênese, e degradação dos aminoácidos. A deficiência de uma
enzima envolvida na síntese das 4 carboxilases (denominada deficiência de
holocarboxilase sintetase ou deficiência múltipla de carboxilases) resulta em
cetose, acidose láctica, hiperamonemia e hipoglicemia, podendo levar ao coma e
à morte se não tratada apropriadamente.
DIAGNÓSTICO: Os
métodos que identificam os afetados pela deficiência de biotinidase são
baseados na determinação da atividade da enzima no soro.
FREQUÊNCIA CTN:
1/8.450
PREVENÇÃO: O
diagnóstico precoce (através da triagem neonatal) e o tratamento adequado evitam
o aparecimento dos sintomas.
DETECÇÃO DE
PORTADORES: A detecção de portadores é possível em quase todos os casos, já
que estes indivíduos costumam apresentar atividade enzimática em um nível
intermediário entre o normal e o de afetados.
DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL:
É possível de ser realizado medindo-se a atividade da enzima, tanto em
vilosidades coriônicas como em células cultivadas do líquido amniótico.
TRATAMENTO:
Consiste na administração oral de doses farmacológicas de biotina, na sua forma
livre. A dose recomendada varia entre 5 e 20 mg por dia, de acordo com cada
caso, em dose diária e por tempo indeterminado.
PROGNÓSTICO: As
conseqüências clínicas da deficiência da biotinidase são evitadas e podem mesmo
ser revertidas pelo tratamento. Os sintomas neurológicos, assim como a perda
auditiva, problemas oftalmológicos e retardo mental não são revertidos
totalmente quando o tratamento é instaurado após o aparecimento dos mesmos.
Quando seguidas as medidas recomendadas, o tratamento é eficiente, previne as
manifestações clínicas da doença e o prognóstico é muito bom.
OBSERVAÇÕES:
Quando a deficiência de biotinidase é suspeitada através da análise dos ácidos
orgânicos na urina, é importante fazer o diagnóstico diferencial com a
deficiência da holocarboxilase sintetase (situação na qual a biotinidase
apresenta atividade normal), cujo tratamento, prognóstico e diagnóstico
pré-natal são diversos.
REFERÊNCIAS:
1. Levy, H.
L.; Warner-Rogers, J.; Waisbren, S. E. Cognitive function in early trated
biotinidase deficiency: follow-up of children detected by newborn screening.
Screening, 4: 125-130, 1995.
2. Wolf, B.
Disorders of Biotin Metabolism. In: Scriver, C. R.; Beaudet, A. L.; Sly, W. S.;
Vale, D., eds. The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Diseases, McGraw
Hill, New York, 7th ed., 1995.
3. Wolf,
B.; Pomponio, R. J.; Hymes, J.; Pandya, A.; Landa, B.; Melone, P.; Javaheri,
R.; Mardach, R.; Morton, S. W.; Meyers, G. A.; Reynolds, T.; Buck, G.; Nance,
W. E. Prenatal diagnosis of heterozygosity for biotinidase deficiency by
enzymatic and molecular analyses. Prenatal Diagnosis, 18: 117-122, 1998.
4. Wolf, B.
Worlwide survey of neonatal screening for biotinidase deficiency. Journal of
Inherited Metabolic Diseases, 14:923, 1991.
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