Artigo gentilmente cedido pelos Dr. Eurico Camargo Neto
e Dra. Fabiana Amorin do CTN Diagnósticos.
CONCEITO:
Deficiência, na maioria dos casos, da enzima galactose-1-fosfato
uridiltransferase, ocasionando um acúmulo de galactose e de galactose-1-fosfato
no sangue e nos tecidos. A deficiência de qualquer uma das 3 enzimas envolvidas
na metabolização da galactose pode causar galactosemia, incluindo: deficiência
de galactose 1-fosfato uridiltransferase (GALT), que causa a forma mais comum,
também conhecida como "galactosemia clássica", deficiência de
galactoquinase (GALK), e deficiência de uridinadifosfato-hexose-4-epimerase
(GALE).
IDADE DE APARECIMENTO
DOS SINTOMAS: A galactosemia clássica geralmente se manifesta nos primeiros
dias de vida. Os sintomas são inespecíficos, dificultando o diagnóstico clínico
e levando freqüentemente à internação hospitalar no período neonatal.
SINTOMAS CLÍNICOS:
Na forma clássica, causada pela deficiência de GALT, observam-se galactosemia e
galactosúria, e sintomas clínicos marcados por alterações digestivas (diarréia
e/ou vômitos), hepáticas (icterícia), oculares (catarata), acompanhadas de
complicações neurológicas, renais, hematológicas e hormonais.
COMPLICAÇÕES: O
quadro da galactsemia clássica é muitas vezes acompanhado por hipotonia,
letargia, retardo de desenvolvimento físico e neuropsicomotor. As alterações
hepáticas podem ocasionar hepatomegalia, cirrose, disfunção hepatocelular,
distúrbios da coagulação, hipertensão porta e ascite. Ainda são observadas
alterações renais com proteinúria e aminoacidúria, sepsis por Escherichia coli,
aumento da pressão intracraniana, edema cerebral, hemólise e eritroblastose. Em
meninas têm sido relatadas complicações tardias, como deficiência ovariana,
amenorréia e menopausa precoces, e infertilidade por hipogonadismo
hipergonadotrófico.
ETIOLOGIA: As
três deficiências enzimáticas são transmitidas de modo autossômico recessivo.
Estudos do gene da GALT com técnicas de biologia molecular demonstraram que a
mutação mais comum, presente em 25% dos alelos, é a substituição da glutamina
por arginina na posição 188 (Q188R).
PATOGÊNESE: A
deficiência da uridiltransferase é responsável pelo acúmulo de galactose e de
seus catabólitos (como o galactitol e a galactose-1-fosfato), tóxicos para o
organismo. O acúmulo de galactose-1-fosfato pode inibir as enzimas
glicose-6-fosfato desidrogenase, fosfoglicomutase e UDP-glicose
pirofosforilase, levando a um quadro de hipoglicemia. O acúmulo de galactitol
no cristalino está associado à gênese da catarata.
DIAGNÓSTICO: O
diagnóstico é feito através de triagem neonatal, quantificando-se os níveis de
galactose e de galactose-1-fostato no sangue impregnado em papel filtro ou a
atividade da galactose-1-fosfato uridiltransferase. A medida da atividade desta
enzima, no entanto, pode ser prejudicada pelo calor ou tempo entre obtenção da
amostra e sua análise, além de não detectar a doença quando esta é devida à
ausência de outras enzimas. Também podem ser realizados exames laboratoriais na
urina, para pequisa de açúcares redutores e identificação de galactose. O
diagnóstico final é obtido pela medida da atividade da enzima nos tecidos,
geralmente avaliada em eritrócitos.
FREQUÊNCIA CTN:
1/43.890
PREVENÇÃO: A
instituição precoce do tratamento previne a instalação do quadro tóxico agudo,
que é muitas vezes fatal.
DETECÇÃO DE
PORTADORES: Pode ser realizado pela dosagem da enzima em eritrócitos, uma
vez que os portadores geralmente apresentam atividade enzimática intermediária
entre a encontrada em afetados e indivíduos normais. A confirmação definitiva
da condição de portador, no entanto, requer testes moleculares específicos.
DIAGNÓSTICO
PRÉ-NATAL: É realizado através da dosagem da enzima em células cultivadas
do líquido amniótico ou em sangue fetal. Nos casos em que a mutação já é
conhecida devido a antecedentes familiares, o teste pode ser realizado em
vilosidades coriônicas.
TRATAMENTO: O
único tratamento proposto para a deficiência de uridiltransferase é a
eliminação da galactose da dieta, fornecida principalmente pelo leite e seus
derivados. Em substituição ao leite pode-se usar produtos à base de soja.
Mamadeira de carne ou de frango pode ser usada com sucesso, principalmente em
recém-nascidos ou lactentes. Para crianças maiores, a dieta pode ser mais
variada, respeitando a orientação nutricional de evitar alimentos que contenham
galactose.
PROGNÓSTICO: Se o
tratamento for instituído precocemente, o prognóstico é excelente no que se
refere a evitar o quadro tóxico agudo. O tratamento não previne, no entanto, as
manifestações tardias da doença, que parecem decorrer da produção endógena
continuada de galactose.
REFERÊNCIAS:
1. Kaplan,
A.; Jack, R.; Opheim, K.; Toivola, B.; Lyon, A. Clinical Chemistry:
Interpretation an Techniques. Williams & Wikins, Malvern, 4th ed. 1995.
2. Pamela, C.C., Richard, A.H. Bioquímica Ilustrada. Artes
Médicas, Porto Alegre, 2ª ed, p. 137-139. 1996.
3. Segal,
S.; Berry, G. T. Disorders of Galactose Metabolism. In: Scriver, C. R.;
Beaudet, A .L.; Sly, W .S.; Vale, D. eds. The Metabolic and Molecular Bases of
Inherited Disease, McGraw Hill, New York, 7th ed., 1995.
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