Artigo gentilmente cedido pelos Dr. Eurico Camargo Neto
e Dra. Fabiana Amorin do CTN Diagnósticos.
CONCEITO: A hiperplasia adrenal congênita é causada pela
deficiência total ou parcial de enzimas envolvidas na síntese de corticóides
pela glândula adrenal (ou supra-renal). Diversos distúrbios são conhecidos,
sendo mais comum (90%) a deficiência da enzima 21-hidroxilase.
IDADE DE APARECIMENTO DOS SINTOMAS: As meninas afetadas
podem ser detectadas ao nascimento pelo aspecto virilizado da genitália, mas os
sintomas relacionados com o desequilíbrio hidroeletrolítico geralmente se
manifestam a partir da segunda ou terceira semanas de vida. Não são raras
manifestações mais tardias em casos de deficiência parcial da 21-hidroxilase ou
de outras enzimas da rota biossintética de mineralocorticóides.
SINTOMAS CLÍNICOS: A deficiência de 21-hidroxilase pode ser
manifestada em formas clássica e não-clássica (com ou sem perda de sal). A
forma clássica virilizante é acompanhada de masculinização da genitália externa
em meninas (grandes lábios enrugados e por vezes fundidos, clitóris
hipertrofiado, área genital pigmentada), podendo ser assintomática em meninos,
ao nascimento. A forma clássica é acompanhada de perda de sal, causando
desequilíbrio hidroeletrolítico, tanto em meninos quanto em meninas. As formas
não-clássica são uma variante atenuada da doença que, em meninas não
diagnosticadas e tratadas adequadamente, apresentam hirsutismo, amenorréia e
infertilidade.
COMPLICAÇÕES: A exposição continuada ao excesso de
esteróides virilizantes pode ocasionar o aumento progressivo do clitóris ou do
pênis, aparecimento de pêlos faciais, axilares e pubianos, acne, aumento da
massa muscular, aceleração do crescimento e da maturação óssea em relação à
idade cronológica, resultando na diminuição da estatura final do paciente. Na
forma perdedora de sal, tanto meninos quanto meninas podem apresentar, em
função dos baixos níveis de mineralocorticóides, desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico
agudo, que podem ser graves a ponto de levar ao óbito se não tratados.
ETIOLOGIA: A deficiência de 21-hidroxilase é herdada de modo
autossômico recessivo, havendo algumas exceções. A base molecular para esta
deficiência é a deleção do gene, localizado no cromossomo 6, que codifica a
proteína citocromo P-450c21. Geralmente, um mesmo tipo de manifestação clínica
é encontrado nas famílias com múltiplos casos da doença.
PATOGÊNESE: Na forma virilizante simples, a deficiência da
21-hidroxilase interrompe o processo de síntese do cortisol na etapa metabólica
de hidroxilação da 17-a-hidroxiprogesterona. A baixa concentração de cortisol
serve como um sinal metabólico para uma maior secreção de ACTH, o que estimula
a supra-renal a produzir mais hormônios, aumentando os níveis de precursores do
cortisol como a 17-a-hidroxipregnenolona e a 17-a-hidroxiprogesterona, os quais
são então desviados para a rota de síntese de esteróides com efeito
androgênico, provocando virilização. Na forma perdedora de sal, a deficiência
da 21-hidroxilase impede também a formação da aldosterona, levando à
incapacidade de retenção de sódio, à severa desidratação e ao óbito, se não
identificada imediatamente.
DIAGNÓSTICO: Na deficiência de 21-hidroxilase, o diagnóstico
laboratorial baseia-se na elevação dos níveis séricos dos precursores do
cortisol, especialmente a 17-a-hidroxiprogesterona, com cortisol diminuído ou
mesmo normal. A quantificação de 17-a-hidroxiprogesterona nos primeiros dias de
vida é considerada o indicador mais importante para o diagnóstico precoce. A
avaliação dos níveis dos eletrólitos (sódio e potássio) é também importante
para a identificação da forma perdedora de sal.
FREQUÊNCIA CTN: 1/7.887
PREVENÇÃO: A freqüência relativamente alta da hiperplasia
adrenal congênita e a possibilidade da instituição precoce de um tratamento
eficiente justificam a realização da triagem neonatal, a qual pode ser feita
através da dosagem de 17-a-hidroxiprogesterona no sangue colhido em
papel-filtro.
DETECÇÃO DE PORTADORES: É possível através de técnicas de
biologia molecular, identificando-se mutações presentes em indivíduos afetados
da mesma família.
DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: Pode ser realizado entre a 14a e a
20a semana de gestação, através da dosagem de 17-hidroxiprogesterona no líquido
amniótico, desde que os valores de referência tenham sido previamente
estabelecidos pelo laboratório, de acordo com a idade gestacional. Exames
moleculares realizados em vilo corial permitem o diagnóstico na 10a semana de gestação.
TRATAMENTO: A suplementação de cortisona bloqueia a
liberação de ACTH, diminuindo a síntese de hormônios androgênicos relacionados
com a virilização. Medidas cirúrgicas de caráter plástico auxiliam a recompor o
aspecto anatômico da genitália nas meninas afetadas. Na forma perdedora de sal,
a administração de mineralocorticóides corrige o desequilíbrio
hidroeletrolítico, que deve ser, no entanto, continuamente monitorizado. O
tratamento deve ser mantido por toda a vida.
PROGNÓSTICO: Quando o diagnóstico é feito precocemente, o
tratamento é instituído de forma correta e adequadamente monitorizado, o
prognóstico é muito bom.
OBSERVAÇÕES: Casais que tiveram um filho do sexo masculino
falecido nas primeiras semanas de vida por quadro de desidratação de causa
inexplicada devem ser encaradas como de risco de terem uma criança com
hiperplasia adrenal congênita em uma nova gestação.
REFERÊNCIAS:
1. Donohove, P. A.; Parker, K.; Migeon, C. J. Congenital
Adrenal Hyperplasia. In:
Scriver, C. R.; Beaudet, A. L.; Sly, W. S.; Vale, D., eds. The Metabolic and
Molecular Bases of Inherited Diseases, McGraw Hill, New York, 7th ed., 1995.
2. Silva, I. N.; Chagas, A. J.; Cordeiro, J. G. Hiperplasia
Congênita da Supra-Renal na Infância. Revisão. Jornal de Pediatria, 65(8):
287-293, 1989.
Muito bom!
ResponderExcluirEle é anti andrógino?
ResponderExcluirEle é anti andrógino?
ResponderExcluirÉ causada por alelo dominante ou recessivo ?
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