Ricardo Sukiennik
Autismo é definido como um
distúrbio complexo do desenvolvimento que tem como características básicas
atraso da comunicação (verbal e não verbal), falta de reciprocidade social e
padrões de comportamento repetitivos acompanhados de estereotipias. Este
distúrbio faz parte dos transtornos invasivos do desenvolvimento (caracterizados
por dificuldades de comunicação, principalmente com atraso da aquisição da
linguagem). Este distúrbio pode ser secundário a várias etiologias e pode
apresentar graus variáveis de severidade. O déficit cognitivo é achado comum.
Existem algumas teorias sobre
etiologia, mas a maioria dos autores defende uma base neurobiológica com um
componente genético e influência ambiental variável. O mecanismo celular/bioquímico
ou metabólico ainda permanece desconhecido.
Existe, dependendo dos critérios
utilizados, uma prevalência estimada em 4 a 13 casos para cada 10.000 habitantes,
ocupando a terceira causa de distúrbios do desenvolvimento, sendo mais frequente,
inclusive, que a Síndrome de Down.
O diagnóstico, na ausência de um
marcador biológico, baseia-se no quadro clínico podendo ser variável e sem a
necessidade de todos os sinais estarem presentes.
Chama atenção, além da falta de
reciprocidade social, por vezes detectado nos primeiros meses de vida, dificuldade
acentuada de comunicação (também de aparecimento precoce no desenvolvimento da
criança), os padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um
repertório restrito de interesses e atividades, por vezes relatado pelos familiares como um objeto que
acompanha a criança em todas as atividades (por exemplo, “escova”/”gaiola”). É comum
o interesse por pequenos mecanismos, de brinquedos ou relógios em atividades
que consomem um tempo exagerado. A falta de interação social, em crianças
maiores e adolescentes, é caracterizada pela dificuldade de interpretação de
estímulos sociais, falta de socialização e é comum a interpretação equivocada
de como são “vistos’ por outras pessoas. Esta característica determina, na
maioria das vezes, a ausência de relações sociais e afetivas duradouras.
O diagnóstico clínico deve seguir
os critérios do DSM-IV, com alta sensibilidade e especificidade e que ajudam a
diferenciar em subtipos de distúrbios associados do espectro autista como:
Síndrome de Asperger, Transtorno desintegrativos da infância, Transtorno invasivo
da infância não especificado e Síndrome de Rett.
O diagnóstico, ainda que baseado
na avaliação clínica deve ser feito por equipe multidisciplinar e recomenda-se,
uma vez feita a suspeita, de utilização de instrumentos específicos como o Childhood Autism Rating Scale (CARS), Autism Diagnostic Interview-Revised
(ADI-R) e Autism Diagnostic Observation
Schedule (ADOS).
Assim como o diagnóstico o
tratamento também deve ser multidisciplinar, com foco nas alterações de
comportamento aliados a técnicas de desenvolvimento da linguagem/comunicação. É
comum a necessidade de uso de neurolépticos e anti-psicóticos atípicos para
controle de sintomas como agressividade, agitação psicomotora, automutilação e estereotipias
(o uso de antipssicóticos atípicos como Risperidona, deve ser cercado de
cuidados em pacientes com epilepsia associada já que podem desencadear
descontrole de crises).
Mesmo
nos melhores centros o prognóstico em longo prazo ainda é considerado pobre já
que em torno de 60 a
70 %dos pacientes permanece, na vida adulta, com déficit cognitivo e social
importantes e elevado grau de dependência de seus cuidadores.
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