Leonardo A. Pinto - pneumologista pediátrico
A pneumonia é uma das infecções do
trato respiratório inferior que leva a um processo inflamatório no parênquima
pulmonar em resposta ao agente agressor. Devido às dificuldades da realização
da RX de tórax no atendimento primário, é aceitável que os critérios clínicos
sugeridos pela Organização Mundial de Saúde sejam valorizados (freqüência
respiratória elevada como indicador de pneumonia em crianças). Porém, sempre
que possível, deve-se utilizar a radiografia de tórax, que pode confirmar o
diagnóstico e melhorar a decisão terapêutica.
Os agentes encontrados são diferentes
para cada faixa etária. No recém-nascido até 3 dias, os agentes etiológicos
mais prováveis são Streptococcus do grupo B, organismos gram negativos e
Listeria monocytogenes. A partir do terceiro dia, deve-se considerar ainda o S.
aureus e Staphylococcus epidermidis.
Entre um e três meses de vida, os
agentes da “pneumonia afebril do lactente” (PAL) devem ser lembrados: Chlamydia
trachomatis e Ureaplasma urealyticum. Em lactentes (0-2 anos) os agentes mais
importantes são os vírus respiratórios, S. pneumoniae e H. influenzae. Em
pré-escolares (2-5 anos), envolvimento do M. pneumoniae se eleva paulatinamente.
Os agentes bacterianos principais continuam sendo S. pneumoniae e H. influenzae.
Nos escolares e adolescentes (>6
anos), S. pneumoniae continua sendo o agente bacteriano mais freqüente. M.
pneumoniae e Chlamydia pneumoniae são microorganismos de prevalência crescente.
H. influenzae e vírus têm participação reduzida. A escolha terapêutica
realizada empiricamente deve ser baseada em agentes esperados para cada faixa
etária.
Quadro
clínico e diagnóstico
A pneumonia adquirida na comunidade
(PAC) costuma ser precedida por um quadro de infecção viral alta. Porém, a
apresentação clínica pode ser mais grave (febre persistente e prostração). Os quadros virais podem
apresentar febre superior a 39 °C, mas após a diminuição da temperatura com antitérmicos,
apresenta uma grande melhora do estado geral, ao passo que nas infecções
bacterianas a prostração pode ser persistente. Sinais de toxemia, palidez e
cianose acompanham a prostração e mostram relação com a gravidade do caso.
A taquipnéia é um sinal muito
importante para o diagnóstico. Porém, na presença de febre, a freqüência
respiratória (FR) deve ser sempre reavaliada após a diminuição da temperatura. A
história de outros episódios de desconforto respiratório (ou sibilância) chama
a atenção para possibilidade de asma / hiperreatividade.
A medida da FR mostra uma relação
estreita com a probabilidade e gravidade da PAC. Os valores considerados
normais variam de acordo com a idade: até os 2 meses, FR < 60 ipm; de 2
meses a 12 meses FR < 50 ipm; acima de 12 meses, FR < 40 ipm. A presença
de retração intercostal é um sinal freqüente de gravidade da doença.
A ausculta pulmonar varia de acordo
com a extensão da pneumonia. Em crianças, é freqüente o comprometimento
brônquico com estertores finos médios e grossos. À ausculta, o murmúrio
vesicular poderá estar diminuído na condensação por pneumonia, como também nas
grandes atelectasias e nos derrames pleurais.
É imperativa a análise conjunta das
anormalidades radiográficas e clínicas. A radiografia de tórax confirma o
diagnóstico de pneumonia, avalia a extensão do processo e identifica
complicações. De um modo geral, nas pneumonias exclusivamente virais, predominam
espessamentos brônquicos e peribrônquicos e infiltrados intersticiais e
atelectasias. Por sua vez, as pneumonias bacterianas apresentam- se com padrão
alveolar segmentar ou lobar, broncograma aéreo, pneumatoceles, espessamento ou
derrame. O Mycoplasma pneumoniae determina alterações radiológicas atípicas,
ora assumindo “padrão” viral, ora bacteriano, ou ambos. A comprovação de PAC é
feita pela radiografia de tórax. Porém, a radiografia de tórax não deve ser
solicitada rotineiramente para o controle de cura.
O hemograma tem pouco valor na
distinção entre processos virais e bacterianos, e a sua realização rotineira
não é recomendada. Na suspeita de PAL, a presença de eosinofilia nos pode
sugerir infecção por Chlamydia trachomatis. Recomenda-se a realização da
hemocultura/hemograma para todos os casos hospitalizados.
Sinais
de gravidade e indicações de internação
As diretrize brasileiras de PAC em
pediatria estabelece que a principal indicação para a hospitalização seja a hipoxemia.
Os critérios de gravidade/hospitalização são: 1. SpO2 < 92%, cianose; 2. FR
≥ 70 rpm; 3. Dificuldade respiratória intensa (apnéia intermitente, gemido); 4.Impossibilidade
de se alimentar; 5. Incapacidade da família em tratar o paciente no domicílio;
6. Pacientes menores de dois meses de idade.
Além dos sinais de gravidade, outros critérios
que devem ser considerados na indicação de internação hospitalar são: 1. Falha
da terapêutica ambulatorial; 2. Doença grave concomitante; 3. Sinais
radiológicos de complicações bacterianas (derrame pleural, abscesso).
Terapêutica
Em crianças com idade inferior a 2
meses, deve-se introduzir penicilina cristalina ou ampicilina associada a
gentamicina e o tratamento deve ser sempre hospitalar.
A partir dos 2 meses, os antibióticos
de primeira escolha são a amoxicilina ou a penicilina procaína para tratamento
ambulatorial, e a penicilina cristalina para uso hospitalar. Em crianças acima
de 5-6 anos, devido à incidência de pneumonias atípicas, pode-se optar pela
introdução de macrolídeos. O período de uso do antibiótico não precisa ser
longo, e o antibiótico pode ser suspenso entre 3 e 5 dias após o
desaparecimento dos sintomas clínicos.
Em pacientes com idade inferior a 5
anos e presença de pneumonia extensa, de evolução rápida e com comprometimento
importante do estado geral, pode-se optar pela introdução de oxacilina ou a
cefalosporina de terceira geração, devido a possibilidade de infecção por
Staphylococcus aureus ou Haemophilus influenzae. Não se recomenda fisioterapia respiratória
para pneumonias adquiridas na comunidade.
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