Dr. José Carlos
Fraga *
Pneumotórax é
definido como a presença de ar no espaço pleural, que determina colapso
pulmonar secundário. A causa mais comum de fuga aérea é o vazamento de ar decorrente
da perfuração do pulmão e da pleura visceral. O pneumotórax espontâneo primário
ocorre na criança sem nenhuma doença pulmonar; o espontâneo secundário ocorre
em crianças com doença pulmonar subjacente, e é mais comum em crianças com
fibrose cística e com infecção por Pneumocystis
carini associado a SIDA. O pneumotórax traumático é resultado de trauma
torácico fechado ou penetrante, que ocasione ruptura de brônquio, pulmão ou
esôfago. Quando ocorre a ruptura concomitante da parede torácica, o pneumotórax
é denominado de aberto. O pneumotórax iatrogênico é secundário a procedimentos
diagnósticos e terapêuticos realizados na cavidade torácica. O pneumotórax que
ocorre em criança em ventilação mecânica, na maioria das vezes se apresenta
como pneumotórax hipertensivo. Este acúmulo progressivo de ar sob pressão
ocasiona compressão e hipoventilação também do pulmão contralateral, com
progressão rápida para insuficiência respiratória súbita, além de dificuldade
do retorno venoso, com colapso cardiovascular e parada cardíaca.
O tratamento
do pneumotórax espontâneo depende do tamanho e da presença ou ausência de
sintomas. Pneumotórax pequeno (menos que 20%), sem manifestações clínicas e que
não aumenta em radiografias seriadas pode ter tratamento expectante. Caso não
ocorra expansão completa após 7 dias, deve-se realizar aspiração com pequeno
cateter ou drenagem torácica, devido o risco de encarceramento pulmonar e necessidade
de abordagem cirúrgica. Pneumotórax com manifestações clínicas, que determinam
colapso pulmonar, e que aumentam em radiografias seriadas necessitam de
tratamento. O tratamento preconizado nestas crianças é a drenagem torácica,
sendo que raramente optamos pela punção esvaziadora. Os pneumotórax
hipertensivo e aberto são condições emergenciais, pois provocam risco de vida
imediato, e devem ser drenados de emergência.
Algumas crianças necessitam de cirurgia para o
tratamento do pneumotórax. As principais indicações de intervenção cirúrgica
são fístula aérea persistente, impossibilidade de expansão pulmonar depois de
adequada drenagem, paciente com somente um pulmão (pneumonectomia prévia) ou que
apresentem recorrência do pneumotórax. A cirurgia pode ser indicada no primeiro
episódio de pneumotórax espontâneo se houver saída de ar persistente pelo dreno
torácico por mais de 5 a 7 dias, ou em casos de impossibilidade de reexpansão
do pulmão. Crianças com fibrose cística que apresentam o primeiro episódio de
pneumotórax também devem ser operadas. A recorrência do pneumotórax ocorre em
aproximadamente 25% das crianças, e maioria são observadas no mesmo lado e dentro
de dois anos após o primeiro episódio. Após o segundo episódio, o risco de ter
o terceiro episódio é mais do que 50%. Quando o segundo episódio ocorre no lado
oposto, está clara a indicação de operar pelo menos um dos lados. Na cirurgia,
prefere-se a remoção das bolhas subpleurais, ou da área responsável pela
fístula pleural, associada à remoção da porção apical da pleural parietal e
abrasão da pleura restante. Devido à aderência significativa provocada pelo uso
intrapleural de agentes químicos (tetraciclina, talco, etc), que dificultariam
uma toracotomia futura, especialmente ressecção ou mesmo transplante de pulmão,
a pleurodese química é indicada em apenas casos selecionados de pneumotórax
recorrente.
* Professor Associado III do Departamento de Cirurgia da
Faculdade de Medicina e do Curso de Pós-Graduação em Medicina: Ciências
Cirúrgicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cirurgião do
Setor de Cirurgia Torácica Infantil e Chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre-UFRGS. Mestre e Doutor pela UFRGS,
Pós-Doutorado na Universidade de Londres (UCL) e Livre-Docente em Cirurgia
Pediátrica pela Universidade de São Paulo (USP).
Dr. José, meu filho, nasceu à 53 horas e tem um pneumotorax bilateral, neste caso, é mais grave?
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