Berenice
Dias Ramos
Otite
média aguda (OMA) é a presença de efusão na orelha média, associada ao início recente, geralmente súbito, de
sinais e sintomas de inflamação da orelha média.
Trinta por cento das crianças menores
de três anos de idade com infecção de vias aéreas superiores (IVAS) apresentam OMA como complicação.
A IVAS provoca congestão da
mucosa do nariz, nasofaringe, tuba auditiva e orelha média, o que resulta na
obstrução da tuba, levando a uma pressão negativa que pode resultar em efusão e
aspiração de secreção para a orelha média. Essa efusão pode permanecer sem causar sinais ou sintomas de infecção aguda.
Entretanto, bactérias patogênicas que colonizam a rinofaringe podem entrar na
orelha média através da tuba auditiva e causar OMA.
Fatores Predisponentes do Hospedeiro
Idade - A faixa de maior
incidência do primeiro episódio de OMA situa-se entre 6 e 12
meses de vida.
Sexo
masculino, raça, predisposição familiar, imunodeficiência, hiperplasia e infecção das adenóides,
Síndrome de Down, malformação craniofacial, como fenda palatina e fenda
palatina submucosa são fatores de risco para OMA.
Fatores Predisponentes Ambientais
Creches e
berçários, uso de chupetas, exposição ao fumo, aleitamento
materno inferior a 6 meses são fatores predisponentes. A alimentação da criança ao seio ou com
mamadeira mais próxima possível da posição sentada diminui o risco de refluxo
de leite através da tuba auditiva.
Microbiologia
A OMA pode ser causada
exclusivamente por vírus em 10 a 20% dos casos. Em 70% dos pacientes com OMA
encontram-se bactérias na cultura da efusão da orelha média. As
bactérias mais frequentes são o Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus
influenzae e a Moraxella catarrhalis.
Sinais e Sintomas
Crianças com OMA podem apresentar sinais e sintomas não-específicos, tais como febre,
irritabilidade, cefaléia, anorexia, vômitos e diarréia. A otalgia é o sintoma
mais comum.
A membrana timpânica está abaulada,
hiperemiada, edemaciada, opaca, com aumento da vascularização e, na
pneumotoscopia, com diminuição da mobilidade. De todos esses sinais, o
abaulamento é o mais importante. A otorréia pode ocorrer na OMA supurada, na criança com perfuração crônica da membrana timpânica ou
com tubo de ventilação.
Tratamento
A primeira medida terapêutica deve
ser o manejo da dor, que poderá ser realizado com paracetamol ou ibuprofeno.
O uso do antibiótico deve ser guiado pela
certeza diagnóstica, idade da criança e gravidade do quadro clínico.
Atualmente, já existe um consenso de
que nem todas as crianças com OMA necessitam antimicrobianos. Uma metanálise,
com dados individuais de pacientes, sugeriu que a otite bilateral,
principalmente em crianças menores de 2 anos de idade, e a otorréia são
critérios que orientam para o uso de antibiótico.
As contraindicações absolutas para observação, sem antibioticoterapia são: idade inferior a seis meses; deficiência ou
transtorno imunológico; febre alta,
doença grave ou falha do tratamento anterior; ou ainda, quando não é possível
revisar. As contraindicações
relativas para observação são: recidiva dentro de 30 dias; OMA bilateral e
otorréia; síndromes, malformação craniofacial ou outro critério que exclui dos
estudos sobre OMA.
A estratégia de prescrever o
antimicrobiano e orientar os pais a utilizá-lo somente se não houver melhora ou
se houver piora, em 24 a 72 horas, é bastante aconselhável e altamente
produtiva na redução do uso de antibióticos, principalmente se associada a uma
breve explicação.
Antibióticos
Amoxicilina 45 mg/kg/dia de 12/12 horas por 10 dias.
Nos pacientes com falha clínica ou
com sintomas mais severos (otalgia intensa ou febre>39°C) pode-se utilizar a
amoxicilina em doses aumentadas com clavulanato:
Amoxicilina 80-90 mg/kg/dia com 6,4mg/kg/dia de clavulanato 12/12horas
por 10 dias.
O clavulanato visa combater as
β-lactamases produzidas por algumas cepas de H.
influenzae e a M. catarrhalis. A dose aumentada de amoxicilina visa combater as eventuais cepas de S.pneumoniae
resistentes à penicilina. As
crianças pequenas que freqüentam creches ou berçários, submetidas a múltiplas
antibioticoterapias, tratamentos prolongados ou profilaxia com antibiótico têm
maior risco de apresentar infecção por S. pneumoniae resistente.
Nas crianças alérgicas à penicilina utiliza-se
cefuroxima, se a alergia não for do tipo 1, ou azitromicina e claritromicina,
se a alergia for do tipo 1. Nos casos mais graves, na criança com alergia, está
indicada a ceftriaxona que deve ser administrada em três doses, em dias consecutivos.
É importante lembrar que, por ser antibiótico de amplo espectro, seu uso está
reservado para casos muito especiais.
Deve-se informar aos familiares que a
persistência de secreção na orelha média após um episódio de OMA é freqüente.
Algumas vezes, a secreção pode perdurar por meses e deve, portanto, ser
monitorada.
Corticosteróides, anti-histamínicos,
descongestionantes ou terapia alternativa não devem ser utilizados para o
tratamento da OMA.
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