Dra Rita de Cassia
Silveira*
O desenvolvimento
motor é um processo seqüencial que envolve a aquisição de habilidades motoras
progressivamente maiores, ou seja, a evolução de movimentos e reflexos
primitivos para movimentos voluntários e controlados. O pediatra deve conhecer
e reconhecer cada etapa evolutiva normal da criança a fim de determinar sinais
de alerta para atraso. Serão abordados, nesta sessão, aspectos evolutivos do
primeiro ano de vida, em função das múltiplas aquisições neuro-evolutivas que
caracterizam esta fase da vida.
Os reflexos
primitivos presentes desde o período neonatal persistem até o máximo os seis
meses de vida; são exemplos: preensão palmar e plantar, reflexos de Galant e Moro,
reflexo de suporte positivo, marcha automática, extensão cruzada, reflexo
tônico-cervical assimétrico. O reflexo de Galant tem resposta fraca no primeiro mês, desaparece no segundo mês e interfere no desenvolvimento
do equilíbrio na postura sentada.
Primeiros três
meses de vida o que é esperado e sinais de alerta:
A criança quando
colocada na posição supino fixa o olhar, a cabeça na linha média
momentaneamente. Apresenta uma hipertonia flexora e reflexos primitivos,
com domínio de níveis inferiores do SNC,
já na posição prono, observa-se um padrão flexor de ambos, membros superiores e
inferiores, com o peso corporal caracteristicamente na cintura escapular e a
zona caudal elevada, em função da flexão dos membros inferiores.
Os sinais de alerta
para atraso ao final do primeiro trimestre de vida são: pouco interesse aos estímulos visuais e auditivos, ausência de reflexo de
fuga, mãos cerradas e polegar incluso, exagero da hipertonia flexora, presença
de cotovelos dirigidos excessivamente para trás na postura sentada e ainda,
reflexos excessivos ou ausentes.
Dos três aos seis meses de vida o que é
esperado e sinais de alerta:
A criança na posição supina apresenta-se com
padrão de simetria corporal, tônus de tronco presente com redução da hipertonia
e inicio da hipotonia fisiológica. Acompanha objetos 18º graus, vocalizações e
“lalação” fisiológicas. Começa a explorar-se, palpa abdômen aos quatro meses e
aos cinco meses segura os pés com facilidade, brinca e olha para as mãos. Rola,
começando a passar de decúbito lateral para prono e vice-versa, inicialmente
sem dissociação da cintura. O
desenvolvimento do controle flexor é completo até o final do sexto mês de vida.
A criança na posição prono apresenta-se com
apoio nas mãos com os cotovelos estendidos aos cinco meses e arrasta-se para
trás aos seis meses. Ocorre desenvolvimento
do controle extensor.
A criança deve ser testada na posição sentada,
onde se observa que a cabeça não oscila mais a partir do quarto mês, tem um esboço
de apoio anterior aos cinco meses e os membros superiores apresentam função de
sustentação corporal. Aos seis meses já tem melhor controle de tronco na
postura sentada, podendo permanecer sentado sem apoio ou com discreto apoio das
mãos. Observa-se Moro ausente. A presença de reflexos primitivos em geral, aos
seis meses, é preocupante, assim como a criança que não interage com o meio
social. A criança também deve ser testada com suspensão vertical onde normalmente ocorre ausência de apoio em membros
inferiores, pois não há sustentação de peso corporal nos membros inferiores
antes dos seis meses.
Os sinais de alerta para atraso no final do segundo
trimestre são: controle pobre da cabeça, falta de fixação ocular, hiper-extensão da cabeça e tronco e unilateralidade, persistência do
reflexo tônico-cervical assimétrico e de hipertonia de membros inferiores.
Dos sete aos nove meses de vida o que é
esperado e sinais de alerta:
A
criança está mais ativa, coluna está mais retificada a partir dos sete meses e
passa da posição supina para a sentada e prefere posição prono, pois há mais
condição de movimentos, arrastando-se para frente. Aos
oito meses início do engatinha e com nove meses torna-se mais competente
nesta função.
No final do oitavo mês, a criança inicia marcha
lateral com apoio dos membros superiores.
Os sinais de alerta para atraso no final do
terceiro trimestre são o controle pobre de tronco, com queda do tronco para
frente (hipotonia dos membros inferiores) e queda para trás (hipertonia dos membros
inferiores), ausência de respostas na Reação de Paraquedas (extensão protetora)
e na Reação de Landau (combinação de reação de retificação com reflexos
tônicos).
Dos dez aos doze meses de vida o que é esperado
e sinais de alerta:
É a fase da exploração do ambiente, aos 10
meses ficar sentado estático é muito raro. A criança busca mobilidade e aceita
bem estímulos e brincadeiras (busca brinquedos fora de seu alcance). Inicia a
linguagem simbólica: pa-pa, ma-ma. É capaz de sentar-se com membros inferiores estendidos
e alinhados. A maturação do indicador para pinça superior, se espera
que seja adquirida até os 12 meses e depende muito de estímulos recebidos ao
brincar.
Em ortostatismo é normal aos 10 meses ficar em pé
segurando nos móveis, com mínima assistência e aos 11 meses abandona o
apoio da mão, sendo capaz de brincar em pé com as duas mãos livres, mesmo que
momentaneamente. Dos 11 aos 12 meses, pode variar os padrões de marcha lateral.
Nas tentativas iniciais da marcha independente o lactente assume uma base
alargada de apoio e abdução dos braços, sendo que a marcha (caminhar) de forma
independente ocorre, em média, aos 13 meses.
Os sinais de alerta para atraso no
neurodesenvolvimento ao final dos 10 -12 meses de vida são: dificuldade para
engatinhar e na transferência de peso para os membros inferiores, presença de um
padrão de reflexo de apoio dos membros inferiores e da marcha, e ainda a marcha
em tesoura, muito característica de neuropatologia grave.
O pediatra deve conhecer cada aquisição motora
da criança, direcionando o exame físico e anamnese para supervisão do
desenvolvimento saudável e atento aos sinais de alerta para atraso. O primeiro
passo, é estarmos familiarizados com as etapas evolutivas do primeiro ano de
vida da criança.
* Professora
do Departamento de Pediatria Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Preceptora
da Residencia de Neonatologia do HCPA-Hospital de Clinicas de Porto Alegre.Chefe
do Ambulatorio de Neonatologia do HCPA
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