segunda-feira, 7 de maio de 2012

Hipertensão pulmonar do recém-nascido


 Renato S. Procianoy *
               
               Hipertensão pulmonar ocorre quando a pressão na artéria pulmonar é superior ao normal e frequentemente ultrapassando a pressão na artéria aorta. Como no recém-nascido há a permanência da comunicação do circuito pulmonar com o circuito sistêmico através do forame oval patente e/ou canal arterial patente ocorre um shunt direito-esquerdo por essas comunicações.
               A etiologia da hipertensão pulmonar no recém-nascido é, geralmente, por insulto hipóxico intra-útero. Dessa forma, a hipertensão pulmonar ocorre mais freqüentemente nos recém-nascidos asfixiados, nos que tem síndrome de aspiração de mecônio e nos que sofreram hipóxia crônica intra uterinamente. Existem também outras situações não relacionadas à hipóxia que ocasionam o desenvolvimento de hipertensão pulmonar no recém-nascido tais como uso de indometacina ou aspirina pela mãe, policitemia neonatal e pneumonia por estreptococo grupo B.
               Os pacientes com hipertensão pulmonar apresentam uma hipertrofia da camada muscular das ramificações das artérias pulmonares que ocasionam aumento na resistência vascular pulmonar e aumento da pressão arterial pulmonar.
               A hipertensão pulmonar no recém-nascido se manifesta por uma hipoxemia de difícil tratamento que não responde ao uso de oxigênio em altas concentrações. Excetuando os pacientes com doença pulmonar, aqueles que só apresentam hipertensão pulmonar não costumam manifestar quadro de dificuldade respiratória significativa.
               No diagnóstico diferencial tem que se levar em conta toda a gama de doenças pulmonares e cardíacas que causam hipoxemia. Nos casos sem doença pulmonar, em que o exame radiológico é normal ou apresenta uma diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar, deve ser feito o diagnóstico diferencial com cardiopatias congênitas.
               O diagnóstico de hipertensão pulmonar é estabelecido pela detecção do shunt direito-esquerdo. Se o shunt se dá pelo canal arterial haverá uma diferença de oxigenação entre a área pré-ductal com maior saturação (membro superior direito) e a área pós-ductal com menor saturação (membros inferiores). Ao se colocar saturômetros simultaneamente no membro superior direito e em um dos membros inferiores e a diferença for maior que 5%, faz-se o diagnóstico de shunt direito-esquerdo pelo canal arterial e, por conseguinte, de hipertensão pulmonar.  Quando o shunt ocorre pelo forame oval, o diagnóstico só é possível com a utilização de ecocardiograma que identificará um shunt direito-esquerdo pelo forame oval. Utilizando o ecocardiograma, pode ser feita uma estimativa da pressão na artéria pulmonar e se fazer um diagnóstico mais preciso de hipertensão pulmonar. A ecocardiografia é um exame obrigatório nos pacientes com hipertensão pulmonar porque além de poder estimar a pressão na artéria pulmonar também afastará o diagnóstico de cardiopatia congênita. 
               O tratamento do paciente com hipertensão pulmonar é feito com o uso de óxido nítrico inalatório. Inicia-se com uma concentração de 20 ppm. O óxido nítrico é um vasodilatador e quando utilizado sob forma inalatória ocasiona vasodilatação seletiva dos vasos pulmonares. Ao se fazer um exame ecocardiográfico pré e pós uso de óxido nítrico inalatório pode-se constatar a resposta ao tratamento com diminuição da pressão na artéria pulmonar e reversão do shunt direito-esquerdo.

* Prof. Titular de Pediatria da UFRGS e Chefe do Serviço de Neonatologia do HCPA


2 comentários:

  1. Existe reversão desse quadro durante o crescimento da criança?

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  2. meu filho morreu derivado de uma hipertensão pulmonar. Há como saber no pré-natal? Há como fazer um diagnóstico precoce?

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