quarta-feira, 30 de maio de 2012

Diagnóstico Precoce em Oncologia Pediátrica


Profa Dra Mariana Bohns Michalowski *
O câncer na infância é uma doença rara. O percentual mediano dos tumores pediátricos encontrados nos registros de base populacional brasileiros situa-se próximo de 3%, o que permite o cálculo estimado de 9.890 casos por ano de tumores pediátricos no país. Apesar disso, sua importância tem sido cada vez maior já que em países desenvolvidos  trata-se da primeira causa de morte por doença na infância.
Além disso, enquanto o câncer de adulto representa uma perda de em média 20 anos de vida, um câncer na infância, quando não curado, pode representar uma perda de 70 anos de vida. Isto tem um custo pessoal, familiar e também social muito grande.
Dentro deste contexto, o pediatra deve estar atento aos sinais e sintomas mais freqüentes dos cânceres infantis para que possa aumentar as possibilidades de cura de seu paciente através do diagnóstico precoce.
Enquanto as medidas para melhorar as taxas de câncer de adultos incluem a prevenção que visam diminuir basicamente a exposição a fatores de risco sabidamente carcinogênicos, como o tabagismo, na infância os  fatores ambientais desempenham um papel muito pequeno. Dessa forma, não existem medidas efetivas de prevenção primária para impedir o desenvolvimento do câncer na faixa etária pediátrica. Como não podemos agir neste ponto, a prevenção secundária, ou seja, o diagnóstico precoce torna-se essencial.
As formas mais freqüentes de câncer na infância e na adolescência são as leucemias, principalmente a leucemia linfóide aguda. Já os tumores de Sistema Nervoso Central (SNC) representam a neoplasia maligna sólida mais freqüente.
O que dificulta, em muitos casos, a suspeita e o diagnóstico do câncer nas crianças e nos adolescentes é o fato de sua apresentação clínica ocorrer através de sinais e sintomas que são comuns a outras doenças mais freqüentes, manifestando-se através de sintomas gerais, que não permitem a sua localização, como febre, vômitos, emagrecimento, sangramentos, adenomegalias generalizadas, dor óssea generalizada e palidez. Ou, ainda, através de sinais e sintomas de acometimento mais localizados, como cefaléias, alterações da visão, dores abdominais e dores osteoarticulares.
O pediatra e o médico da ESF devem considerar a possibilidade de malignidade na infância não somente porque se trata de doença potencialmente fatal, mas porque o câncer é uma doença potencialmente curável, dependendo do tipo e do estágio de apresentação. Os estudos indicam que o diagnóstico de câncer pediátrico é freqüentemente retardado devido à falha no reconhecimento dos sinais de apresentação.

São sinais freqüentes:
a)               Febre: pode estar presente no diagnóstico de várias neoplasias, manifestando-se como uma febre persistente sem origem determinada
b)              Emagrecimento: as neoplasias induzem catabolismo resultando em alteração de peso.
c)               Palidez: como manifestação da anemia causada pela infiltração medular (como nas leucemias) ou por sangramento (associado à plaquetopenia ou sangramento intra-tumoral)
d)              Sangramentos anormais: manifestações cutâneas de sangramento não associadas a traumatismos como petéquias ou hematomas espontâneos como sinais de plaquetopenia
e)               Dor generalizada: por infiltração tumoral da medula óssea ou processos metastáticos
f)               Adenomegalias: são freqüentes na infância e, em geral, associadas a processos infecciosos. As adenomegalias neoplásicas devem ser suspeitadas quando observamos gânglios de mais de 3 cm de diâmetro, endurecidos, indolores, aderidos e sem evidência de infecção na área de drenagem.

No Brasil se propõe atualmente algoritmos que auxiliam no diagnóstico precoce das neoplasias mais freqüentes da infância que podem ser aplicados facilmente pelo pediatra na sua prática diária.
Descrevo aqui três destes algoritmos que abrangem as neoplasias mais freqüentes, a saber, leucemias, linfomas e tumores de sistema nervoso central (SNC).

Figura 1. Quando suspeitar de leucemia 
 
Figura 2. Quando suspeitar de linfoma

 
Figura 3. Quando suspeitar de Tumor de SNC ou retinoblastoma
 
Lembro também que o aumento anormal e assimétrico de qualquer região (tórax ou abdomem) ou membro deve fazer suspeitar de processo neoplásico.
E atenção: “só faz um diagnóstico de câncer quem pensa em câncer”. A hipótese de neoplasia deve fazer parte do diagnóstico diferencial para pacientes que apresentem um desses sinais e sintomas comuns ao câncer na criança e no adolescente.

* Professora Adjunta Departamento Pediatria
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

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