quarta-feira, 25 de julho de 2012

Asma na criança

Paulo Márcio Pitrez*

A asma é a doença crônica mais comum na criança, caracterizando-se por sintomas e exacerbações frequentes, consultas médicas em emergência, limitações aos exercícios, sintomas noturnos, perdas escolares, podendo comprometer o aspecto emocional da criança, e oferecendo importante dano à qualidade de vida. O manejo inadequado da doença gera gastos substanciais para a sociedade e órgãos públicos. No Brasil, estima-se que 15% das crianças em idade escolar são portadoras da doença (aproximadamente 7 milhões de crianças). Em todas as faixas etárias, morrem 6 pacientes por dia de asma no país. Estes números demonstram o tremendo impacto desta doença no país.

O pediatra deve, de forma personalizada, realizar o diagnóstico correto (excluindo outras doenças) e escolher o melhor tratamento profilático, frente ao espectro de gravidade, dominando totalmente a orientação quanto as técnicas de inaloterapia e o controle da adesão ao tratamento. Deve ser sempre priorizada a prevenção das “crises” e dos sintomas. A asma moderada-grave ocupa a porção dos casos que mais demanda atendimento médico e custos. Segundo as principais diretrizes internacionais para o manejo da asma, o corticóide inalatório (CI), o anti-leucotrieno e o beta-2 agonista de longa ação (LABA) são os fármacos mais eficazes para controle da asma moderada-grave. Com este arsenal terapêutico, é possível atingir o controle da doença na grande maioria dos casos (>90% dos pacientes). O testes terapêuticos são a base do manejo medicamentoso. O uso de CI em doses baixas a moderadas, do anti-leucotrieno (Montelucaste), ou a associação dos dois deve ser a linha de frente da prescrição da asma leve a moderada em crianças pelo pediatra. O LABA e outras terapias devem ser reservadas mais para o ambiente do especialista. Nas exacerbações, o beta-2 agonistas de curta ação deve ser sempre utilizado, restringindo o corticóide oral para os casos de maior gravidade. A melhor forma de administrar medicação inalatória é através de spray com espaçador ou inaladores de pó seco.

É interessante destacar que, mais do qualquer resultado de exame (ex: função pulmonar), a avaliação do controle da doença e da qualidade de vida da criança são as ferramentas mais importantes para o sucesso do tratamento. Esta avaliação é bastante focada em detalhada anamnese a cada consulta de avaliação, com ênfase no controle da doença, atividades diárias, lazer, aspectos emocionais, familiares e escolares. Medidas de controle ambiental (higiene básica do domicílio e prevenção do tabagismo ativo e passivo) são importantes. Também central no atendimento deste tipo de paciente, a educação sobre a doença é peça fundamental no manejo, orientando sobre a eficácia e segurança das terapias prescritas e derrubando mitos sobre asma, estes tão enraizados na população. Por fim, e não menos importante, é desafio do pediatra e de suas sociedades representativas também lutarem como classe para que o tratamento medicamentoso da asma seja oferecido universalmente às populações carentes no Brasil pelos gestores públicos em saúde e para que contínuas campanhas de educação façam com que a população torne-se cada vez mais familiarizada com esta doença tão prevalente e prejudicial às crianças.

* Professor da Faculdade de Medicina da PUCRS, Diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS e Pneumologista Pediátrico do Hospital São Lucas da PUCRS.

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