quarta-feira, 11 de julho de 2012

Galactosemia


 Artigo gentilmente cedido pelos Dr. Eurico Camargo Neto e Dra. Fabiana Amorin do CTN Diagnósticos.

CONCEITO: Deficiência, na maioria dos casos, da enzima galactose-1-fosfato uridiltransferase, ocasionando um acúmulo de galactose e de galactose-1-fosfato no sangue e nos tecidos. A deficiência de qualquer uma das 3 enzimas envolvidas na metabolização da galactose pode causar galactosemia, incluindo: deficiência de galactose 1-fosfato uridiltransferase (GALT), que causa a forma mais comum, também conhecida como "galactosemia clássica", deficiência de galactoquinase (GALK), e deficiência de uridinadifosfato-hexose-4-epimerase (GALE). 

IDADE DE APARECIMENTO DOS SINTOMAS: A galactosemia clássica geralmente se manifesta nos primeiros dias de vida. Os sintomas são inespecíficos, dificultando o diagnóstico clínico e levando freqüentemente à internação hospitalar no período neonatal. 

SINTOMAS CLÍNICOS: Na forma clássica, causada pela deficiência de GALT, observam-se galactosemia e galactosúria, e sintomas clínicos marcados por alterações digestivas (diarréia e/ou vômitos), hepáticas (icterícia), oculares (catarata), acompanhadas de complicações neurológicas, renais, hematológicas e hormonais. 

COMPLICAÇÕES: O quadro da galactsemia clássica é muitas vezes acompanhado por hipotonia, letargia, retardo de desenvolvimento físico e neuropsicomotor. As alterações hepáticas podem ocasionar hepatomegalia, cirrose, disfunção hepatocelular, distúrbios da coagulação, hipertensão porta e ascite. Ainda são observadas alterações renais com proteinúria e aminoacidúria, sepsis por Escherichia coli, aumento da pressão intracraniana, edema cerebral, hemólise e eritroblastose. Em meninas têm sido relatadas complicações tardias, como deficiência ovariana, amenorréia e menopausa precoces, e infertilidade por hipogonadismo hipergonadotrófico. 

ETIOLOGIA: As três deficiências enzimáticas são transmitidas de modo autossômico recessivo. Estudos do gene da GALT com técnicas de biologia molecular demonstraram que a mutação mais comum, presente em 25% dos alelos, é a substituição da glutamina por arginina na posição 188 (Q188R). 

PATOGÊNESE: A deficiência da uridiltransferase é responsável pelo acúmulo de galactose e de seus catabólitos (como o galactitol e a galactose-1-fosfato), tóxicos para o organismo. O acúmulo de galactose-1-fosfato pode inibir as enzimas glicose-6-fosfato desidrogenase, fosfoglicomutase e UDP-glicose pirofosforilase, levando a um quadro de hipoglicemia. O acúmulo de galactitol no cristalino está associado à gênese da catarata. 

DIAGNÓSTICO: O diagnóstico é feito através de triagem neonatal, quantificando-se os níveis de galactose e de galactose-1-fostato no sangue impregnado em papel filtro ou a atividade da galactose-1-fosfato uridiltransferase. A medida da atividade desta enzima, no entanto, pode ser prejudicada pelo calor ou tempo entre obtenção da amostra e sua análise, além de não detectar a doença quando esta é devida à ausência de outras enzimas. Também podem ser realizados exames laboratoriais na urina, para pequisa de açúcares redutores e identificação de galactose. O diagnóstico final é obtido pela medida da atividade da enzima nos tecidos, geralmente avaliada em eritrócitos. 

FREQUÊNCIA CTN: 1/43.890 

PREVENÇÃO: A instituição precoce do tratamento previne a instalação do quadro tóxico agudo, que é muitas vezes fatal. 

DETECÇÃO DE PORTADORES: Pode ser realizado pela dosagem da enzima em eritrócitos, uma vez que os portadores geralmente apresentam atividade enzimática intermediária entre a encontrada em afetados e indivíduos normais. A confirmação definitiva da condição de portador, no entanto, requer testes moleculares específicos. 

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: É realizado através da dosagem da enzima em células cultivadas do líquido amniótico ou em sangue fetal. Nos casos em que a mutação já é conhecida devido a antecedentes familiares, o teste pode ser realizado em vilosidades coriônicas.
 
TRATAMENTO: O único tratamento proposto para a deficiência de uridiltransferase é a eliminação da galactose da dieta, fornecida principalmente pelo leite e seus derivados. Em substituição ao leite pode-se usar produtos à base de soja. Mamadeira de carne ou de frango pode ser usada com sucesso, principalmente em recém-nascidos ou lactentes. Para crianças maiores, a dieta pode ser mais variada, respeitando a orientação nutricional de evitar alimentos que contenham galactose. 

PROGNÓSTICO: Se o tratamento for instituído precocemente, o prognóstico é excelente no que se refere a evitar o quadro tóxico agudo. O tratamento não previne, no entanto, as manifestações tardias da doença, que parecem decorrer da produção endógena continuada de galactose. 

REFERÊNCIAS:
1. Kaplan, A.; Jack, R.; Opheim, K.; Toivola, B.; Lyon, A. Clinical Chemistry: Interpretation an Techniques. Williams & Wikins, Malvern, 4th ed. 1995.
2. Pamela, C.C., Richard, A.H. Bioquímica Ilustrada. Artes Médicas, Porto Alegre, 2ª ed, p. 137-139. 1996.
3. Segal, S.; Berry, G. T. Disorders of Galactose Metabolism. In: Scriver, C. R.; Beaudet, A .L.; Sly, W .S.; Vale, D. eds. The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease, McGraw Hill, New York, 7th ed., 1995.

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