terça-feira, 3 de julho de 2012

Fibrose Cística ou Mucoviscidose


Dr. Paulo Jose Cauduro Marostica

É a doença genética autossômica recessiva mais comum na raça branca. É causada pela presença de mutações em um gene situado no braço longo do cromossoma 7, que codifica um polipeptídeo que funciona como um canal de cloro nas membranas dos órgãos epiteliais (regulador da condutância transmembrana da FC ou RTFC). Mais de mil e quinhentas mutações foram descritas no gene da FC, porem a mais frequente dela ocasiona a deleção de um aminoácido fenilalamina na posição 508 da proteína RTFC.
Essa doença caracteriza-se por defeito no transporte de eletrólitos através de membranas celulares epiteliais do organismo muito espessas e viscosa, que causam obstrução no nível de ductos e canalículos glandulares.
A incidência estimada de doentes e’ de 1:2000 a 1:25000 recém-nascidos vivos na população caucasiana.
Acomete também outras raças, mas com incidências inferiores.
O defeito básico acomete células de vários órgãos epiteliais, nem todos os indivíduos expressam comportamento clinico semelhante. As manifestações clínicas podem ser muito variáveis e ocorrer precocemente ao nascer, em idades mais avançadas e ate’ na vida adulta. O acometimento do trato respiratório associa-se com maior morbidade e é a causa de morte em mais 90% dos pacientes.
Manifestações Clínicas:

Idade     0-2 anos: Íleo Meconial
Icterícia Neonatal Prolongada
Hiponatremia / Anemia
Déficit do ganho pondero-estatural
Esteatorreia
Prolapso Retal
Edema / Hipoproteinemia
Pneumonia / Bronquite / Bronquiolite

2-12 anos: Infecções Respiratórias recorrentes /Asma
Baqueteamento Digital
Pólipos Nasais e sinusites
Esteatorreias
Obstrução Intestinal crônica

13 anos ou mais: Azospermia
Sinusite Crônica
Pancreatite Crônica ou aguda
Cirrose biliar focal
Diabete Melitus
Hipertensão Porta
Colestase / Litíase biliar
O acometimento do aparelho pulmonar é progressivo. Os pulmões são praticamente normais intra-utero e nos primeiros meses de vida. As bronquiectasias se desenvolvem a partir do 2º ano.
A manifestação respiratória mais comum e’ a tosse crônica persistente, que pode ocorrer desde as primeiras semanas de vida e piora nas exacerbações infecciosas.
Na FC, ocorre uma interação significativa entre processos inflamatórios e infecção pulmonar por um numero relativamente restrito de germes: Stapholococcus Aureus,Haemophilus Influenza não tipável e Pseudômonas Aeruginosa são os patógenos mais frequentes.
Aradiografia de tórax apresenta apenas hiperinsuflação nos casos iniciais, acompanhado ou não de atelectasias, evoluindo com espessamento brônquico e finalmente bronquiectasias que costumam ser mais evidentes nos lobos superiores.
A doença pulmonar pode evoluir para a cor pulmonale. As complicações incluem hemoptise, pneumotórax, impactações mucoides brônquicas, atelectasias, enfisema progressiva e osteopatia hipertrófica.
As manifestações digestivas são, na sua maioria, secundarias a insuficiência pancreática (IP) que determina má digestão e má absorção. Causa também esteatorreia crônica e, finalmente desnutrição calórico-proteica. A IP está presente em cerca de 75% dos fibrocisticos ao nascimento, em 80-85% até final do primeiro ano, e em 90% na idade adulta.
A primeira manifestação da IP na FC é o íleo meconial que aparece em 15-20 % dos pacientes. A maioria dos diagnósticos é secundaria a FC.
A Diabete melitus é mais frequente na segunda década de vida e esta prevalência aumenta com a idade.
Os critérios diagnósticos são a presença de características clinicas típicas ou irmão com FC ou teste de triagem neonatal positivo associado a dosagem de eletrólitos no suor alterada (cloreto maior que 60 mEq/L) ou presença de 2 mutações para FC ou teste de diferença de potencial nasal anormal.

Tratamento:
Devido ao seu caráter multissistêmico e crônico, o tratamento deve ser realizado em centros médicos de referencia, com equipe multidisciplinar. Deve ser iniciado o mais precocemente possível e ser individualizado, levando em conta a gravidade e os órgãos acometidos.
O uso dos antibióticos a partir da primeira identificação tem sido indicada na maioria dos serviços, tanto no tratamento dos Staphilo aureus quanto de Pseudômonas. A erradicação deste ultima germ, nessa fase, adia o surgimento de colonização crônica por cepas mucóides e pode ser realizado com o uso de quinolonas orais e antibióticos inalatórios. Essa conduta está associada a melhores desfechos do quadro pulmonar. Os pacientes cronicamente colonizados por Pseudômonas devem receber antimicrobianos inalatórios contínuos para a supressão da mesma (Tobramicina ou Colistin).
Outros medicamentos indicados são os mucoliticos como a alfa dornase e a solução salina hipertônica a7%, associados a fisioterapia respiratória, que deve ser feita diariamente.
Outro ponto fundamental no manejo dos pacientes com FC e’ a abordagem nutricional e reposição de enzimas pancreáticas. Os principais objetivos da terapia nutricional são diagnosticar precocemente e tratar os déficits nutricionais, prevenir a progressão da doença e manter uma nutrição e crescimento adequado. Em função da má absorção intestinal e do alto gasto calórico, a dieta deve ser hipercalórica.

Prognóstico:
O prognostico destes pacientes nos últimos decênios tem melhorado enormemente. Vários fatores têm contribuído para esta melhora da sobrevida e da qualidade de vida, entre eles podemos citar: o manejo multidisciplinar em centros especializados, o aprimoramento das técnicas de clearance das vias aéreas, o uso judicioso, ma apropriado de antibióticos, o diagnostico precoce (teste do pezinho) e o manejo nutricional mais intenso.
A sobrevida mediana dos pacientes em centros de países desenvolvidos está por volta dos 38 anos.

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