segunda-feira, 4 de junho de 2012

Triagem Nutricional Pediátrica: Existe? Como?


José Vicente Noronha Spolidoro *

Objetivo: atualizar sobre as ferramentas existentes para Triagem Nutricional Pediátrica
Avaliação nutricional e triagem nutricional são diferentes. Na Avaliação Nutricional o objetivo é definir as condições nutricionais do paciente, caracterizando como eutrófico, desnutrido, obeso, desnutrição aguda, crônica, etc, e assim determinando o quanto este diagnóstico pode interferir na saúde desta criança, por exemplo, comprometendo seu crescimento, ou risco de doenças cardiovasculares na vida adulta. Quando falamos em Triagem Nutricional, o objetivo é definir o risco nutricional, ou seja, quanto o estado nutricional neste momento pode interferir no manejo imediato deste paciente. A triagem nutricional se aplica muito para pacientes hospitalizados, determinando o risco que a criança tem de não ter sucesso na terapêutica a ser implantada, interferência no tempo de internação e até risco de mortalidade.
Algumas ferramentas de Triagem Nutricional foram propostas recentemente, mas nenhuma completamente validada. Sermet-Gaudelus I et al (2000) fez a primeira proposta. Outras duas mais recente são STAMP (Screening Tool for the Assesssment of Malnutrition in Pediatrics) (McCarthy 2008 e Ling 2011) e STRONGkids (Screening Tool for Risk on Nutritional status and Growth) (Hulst et al., 2010). STRONGkids, é uma ferramenta de triagem nutricional que consiste em quatro áreas (1) avaliação subjetiva global de risco; (2) risco nutricional da doença que o paciente apresenta; (3) ingestão nutricional e perdas (4) perda de peso ou pobre ganho de peso. 

Qual a importância da triagem de risco nutricional em pediatria?
A desnutrição hospitalar é um problema em todos os centros, até mesmo em países desenvolvidos. Estudos recentes na Europa, encontraram na Holanda 19% (Joosten et al., 2010) e na Alemanha 24% (Pawellek et al., 2008) de desnutrição em internação hospitalar pediátrica. No Brasil, Rocha em Forteleza descreveu em torno de 19% (Rocha et al., 2006). Estudos recentes nacionais e internacionais mostram que mais de 25% das crianças internadas em UTIP estão agudamente ou cronicamente desnutridas no momento da admissão, e que o estado nutricional dessas crianças se deteriora durante a internação (Leite et al., 1993, Hulst et al., 2004, Sermet-Gaudelus et al., 2000). Leite e colaboradores avaliaram 46 admissões consecutivas em uma UTIP no Brasil e identificaram a presença de desnutrição em 65% desses pacientes, com associação da desnutrição crônica com maiores índices de infecção e a taxa de mortalidade mostrou-se maior entre os pacientes desnutridos, associando o estado nutricional à evolução hospitalar (Leite et al., 1993). Assim, determinar a desnutrição intra-hospitalar e o risco nutricional dos pacientes ao internar, fornece instrumento fundamental para precoce intervenção nutricional, interferindo diretamente no curso desta internação hospitalar, reduzindo tempo de hospitalização, complicações (especialmente em pacientes cirúrgicos) e redução na mortalidade (particularmente em crianças internadas em unidades de terapia intensiva pediátrica). 

O que pode ser feito para prevenir o desenvolvimento da desnutrição intra-hospitalar?
Havendo uma ferramenta de avaliação do risco nutricional na internação hospitalar, a equipe pode precocemente acionar intervenção nutricional, evitando que esta condição de desnutrição progrida ou se instale. A triagem nutricional passa a ser elemento fundamental na internação hospitalar, com resposta objetiva no curso da internação desta criança. As ferramentas de triagem nutricional costumam classificar o paciente ao internar em três grupos: alto risco, médio risco e sem risco nutricional. (Hulst et al., 2010, Ling et al., 2011) Assim aqueles com alto risco, devem ser avaliados pela equipe multiprofissional de terapia nutricional (EMTN) para diagnóstico nutricional e orientação de suplementação alimentar ou nutrição enteral/parenteral. Os com médio risco devem ser acompanhados atentamente (peso duas vezes por semana e reavaliação de risco nutricional em uma semana) e considerar avaliação da EMTN e início de suplementação oral. Os pacientes classificados como sem risco nutricional não necessitarão qualquer intervenção nutricional, devendo pelo menos ser pesados semanalmente.
Estudo multicêntrico na Europa e no Brasil estão testando uma nova proposta de Triagem Nutricional Pediátrica

Mensagem Principal: A Triagem Nutricional deve ser implantada nos Hospitais nas Unidades Pediátricas

Conclusão: Utilização de Ferramentas de Triagem Nutricional Pediátrica deve promover benefícios no desfecho da internação de crianças.

Referências
1.           Hulst, J. M., Van Goudoever, J. B., Zimmermann, L. J., Hop, W. C., Albers, M. J., Tibboel, D. & Joosten, K. F. The effect of cumulative energy and protein deficiency on anthropometric parameters in a pediatric ICU population. Clin Nutr 2004; 23:1381-9.
2.           Hulst, J. M., Zwart, H., Hop, W. C. & Joosten, K. F.. Dutch national survey to test the STRONGkids nutritional risk screening tool in hospitalized children. Clin Nutr 2010; 29:106-11.
3.           Joosten, K. F., Zwart, H., Hop, W. C. & Hulst, J. M.. National malnutrition screening days in hospitalised children in The Netherlands. Arch Dis Child 2010; 95:141-5.
4.           Leite, H. P., Isatugo, M. K., Sawaki, L. & Fisberg, M.. Anthropometric nutritional assessment of critically ill hospitalized children. Rev Paul Med 1993; 111:309-13.
5.           Ling, R. E., Hedges, V. & B, S. P. 2011. Nutritional risk in hospitalised children: An assessment of two instruments. e-SPEN, the European e-Journal of Clinical Nutrition and metabolism [Online], 6.
6.           Pawellek, I., Dokoupil, K. & Koletzko, B. Prevalence of malnutrition inpaediatric hospital patients. Clin Nutr 2008; 27:72-6.
7.           Sermet-Gaudelus I, Poisson-Salomon A, Colomb V, et al. Simple pediatric nutritional risk score to identify children at risk of malnutrition. Am J Clin Nutr 2000;72:64-70.


* Doutor em Pediatria e Saúde da Criança e Adolescente da Faculdade de Medicina da PUCRS
Professor de Pediatria da Faculdade de Medicina PUCRS
Pediatra com área de atuação em Gastroenterologia e Nutrologia
Especialista em Endoscopia Digestiva e Nutrição Parenteral e Enteral


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