terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nevos melanocíticos na infância

Thaís Corsetti Grazziotin

Nevos melanocíticos são proliferações melanocíticas da pele que podem estar presentes ao nascimento (congênitos) ou surgir durante a infância (adquiridos). A infância e adolescência são períodos importantes da vida de formação e evolução dos nevos. A presença de um número aumentado de nevos adquiridos no início da vida é um fator de risco importante para o desenvolvimento de melanoma. Características genéticas como fototipo e cor dos olhos e cabelo também parecem influenciar a prevalência dos nevos melanocíticos, bem como fatores ambientais como exposição à radiação ultravioleta e história de queimaduras solares.(1) Aproximadamente 1-6% dos neonatos apresentam nevos congênitos.(2) Ao nascimento apresentam-se como lesões mais claras e sem pelos, que com o tempo podem se tornar mais pigmentadas, adquirir pelos e formar nódulos.(3) A maioria dos nevos congênitos é classificada como nevo melanocítico congênito pequeno.(4) O risco de transformação maligna para melanoma está bem estabelecido para lesões grandes (11-10cm) e gigantes (>20 cm), sendo estimado em 4,5-10%; no entanto, o risco associado a nevos pequenos (<1,5cm) e médios (1,5-10cm) continua controverso.(3) Além disso, nevos grandes e gigantes estão em maior risco de complicações como a melanocitose neurocutânea, doença congênita rara, na qual há envolvimento das leptomeninges por quantidades excessivas de melanócitos e melanina. O risco é maior em nevos grandes localizados em distribuição axial posterior e que apresentam lesões satélites. Em casos suspeitos pode ser indicada investigação por ressonância magnética e avaliação neurológica periódica.(5) O desenvolvimento de melanoma a partir de nevos congênitos grandes e gigantes ocorre em geral antes da puberdade, e em nevos pequenos e médios, após a puberdade. Muitas lesões podem necessitar de remoção profilática. No entanto, cirurgia é um procedimento traumático na infância, pode necessitar anestesia geral e resultar em cicatrizes inestéticas. Acompanhamento a longo prazo das crianças portadoras de nevos congênitos está indicado, incluindo exame clínico e palpação. Mais recentemente, o exame não invasivo por dermatoscopia demonstrou aumentar a acurácia diagnóstica de lesões melanocíticas, sendo útil para o acompanhamento de nevos congênitos e adquiridos.  Nevos congênitos apresentam características dermatoscópicas que ajudam a diferenciá-los de nevos adquiridos e outras lesões pigmentadas, o que é especialmente importante em nevos pequenos. Além disso, a dermatoscopia tem se mostrado efetiva em detectar modificações malignas precocemente. A abordagem das lesões melanocíticas congênitas deve ser individualizada. O manejo terapêutico do nevo congênito é muitas vezes difícil e requer um procedimento invasivo, portanto esta opção deve ser discutida com o paciente e seus pais, e depende dos achados clínicos e dermatoscópicos, bem como da demanda do paciente e familiares.(6)

Referências

1. Aguilera P, Puig S, Guilabert A, Julia M, Romero D, Vicente A, et al. Prevalence study of nevi in children from Barcelona. Dermoscopy, constitutional and environmental factors. Dermatology. 2009;218(3):203-14.
2. Changchien L, Dusza SW, Agero AL, Korzenko AJ, Braun RP, Sachs D, et al. Age- and site-specific variation in the dermoscopic patterns of congenital melanocytic nevi: an aid to accurate classification and assessment of melanocytic nevi. Arch Dermatol. 2007 Aug;143(8):1007-14.
3. Fernandes NC, Machado JL. Clinical study of the congenital melanocytic naevi in the child and adolescent. An Bras Dermatol. 2009 Mar-Apr;84(2):129-35.
4. Seidenari S, Pellacani G, Martella A, Giusti F, Argenziano G, Buccini P, et al. Instrument-, age- and site-dependent variations of dermoscopic patterns of congenital melanocytic naevi: a multicentre study. Br J Dermatol. 2006 Jul;155(1):56-61.
5. Kinsler VA, Chong WK, Aylett SE, Atherton DJ. Complications of congenital melanocytic naevi in children: analysis of 16 years' experience and clinical practice. Br J Dermatol. 2008 Sep;159(4):907-14.
6. Braun RP, Calza AM, Krischer J, Saurat JH. The use of digital dermoscopy for the follow-up of congenital nevi: a pilot study. Pediatr Dermatol. 2001 Jul-Aug;18(4):277-81.


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