segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Sono na Criança


Dra Simone Fagondes*

O sono é uma necessidade básica na vida, tão importante para o nosso bem estar como o ar, a água e o alimento. Quando dormimos bem, acordamos dispostos, alertas e prontos para os desafios do cotidiano. Mas, quando isto não ocorre, podemos ter sérias conseqüências. A privação de sono pode ocorrer tanto devido à quantidade de sono insuficiente como devido a problemas durante o sono.
Ter um sono contínuo e de boa qualidade é essencial para que tenhamos uma boa qualidade de vida. É importante ressaltar que esta necessidade vale também para as crianças.

Quantidade de sono

A quantidade de sono necessária varia ao longo da vida. Recém- nascidos e lactentes necessitam muitas horas de sono e tem vários períodos de sono ao longo das 24 horas. As sestas são essenciais nesta etapa da vida e esta necessidade pode se manter até os 5 anos. Ao entrar na adolescência, verifica-se que o sono tende a ser deslocado para um horário mais avançado da noite, mas persiste uma necessidade de sono em torno de 9 horas. Ao atingir a fase adulta, mesmo ao atingir a maturidade, a necessidade de sono permanece em torno de 7 a 9 horas por noite. É importante salientar que, com o envelhecimento, os padrões de sono podem modificar mas a necessidade de sono permanece a mesma.

Número de horas de sono necessárias ao longo da vida

Recem-nascidos e
Lactentes**
0-2 meses: 10.5 a 18.5 horas
2-12 meses: 14 a 15 horas
Pré-escolares e
Escolares**
12-18 meses: 13 a 15 horas
18 meses- 3 anos: 12 a 14 horas
3- 5 anos: 11 a 13 horas
5 a 12 anos: 9 a 11 horas
Adolescentes
8.5 a 9.5 horas
Adultos e idosos***
Média de 7 a 9 horas
 
** Inclusive sestas
*** Algumas pessoas necessitam somente 4 horas de sono, outras até 10 horas de sono


Problemas de sono em crianças

Os problemas de sono mais comuns em crianças são: transtornos comportamentais do sono, parassonias, síndrome da apneia obstrutiva do sono e movimento periódico de pernas. A seguir abordaremos os transtornos comportamentais do sono.

As questões relacionadas ao sono da criança vão se modificando à medida que ela cresce e vai transitando pelas várias fases do desenvolvimento. Resultam de uma série de variáveis que vão desde o próprio temperamento da criança, preferências circadianas individuais, expectativas e comportamento dos pais, ambiente e composição familiar até valores culturais.

No lactente, as questões mais freqüentemente apresentadas são os problemas para o iniciar o sono e manter-se dormindo. Os despertares ocorrem normalmente em todos os indivíduos na passagem de um ciclo de sono para outro. Normalmente esses despertares são rápidos, e a criança deveria ter a capacidade de volta a dormir sozinha. Algumas medidas profiláticas podem ser utilizadas para incentivar este comportamento. O ritual prévio à hora de dormir deve ser iniciado em torno dos 4 meses. Pode incluir banho, pijamas, canções de ninar, ambiente e luz apropriada, e, mais tarde, histórias e outros. É importante que este ritual ocorra logo antes do adormecer, mas que a criança seja deixada ainda acordada em seu berço para que adormeça só. Caso contrário, quando ocorrerem os despertares noturnos, a criança não será capaz de adormecer sem a presença de um adulto. Objetos de transição devem ser incentivados.  A mamadeira da madrugada deve ser retirada a partir dos 6 meses, e a mamadeira logo antes de dormir deve ser evitada pela questão associativa com o adormecer, além de favorecer cáries e otite média. Estima-se que em torno de 50% das crianças com 1 ano apresentem dificuldades na hora de dormir e 30% têm despertares noturnos problemáticos. A partir dos 12 meses, a aquisição crescente de habilidades cognitivas e da linguagem pode acentuar problemas de resistência a ir para a cama. Pode tornar-se um meio de testar os limites dos pais. A partir dos 2 a 3 anos, quando ocorre a transição do berço para a cama, a habilidade de ir sozinha para a cama dos pais pode piorar o problema dos despertares noturnos. O início de medos da noite pode coincidir com o desenvolvimento da imaginação e da fantasia. Por outro lado, a compreensão do significado simbólico dos objetos pode aumentar a confiança e o interesse nos objetos de transição. 

Na idade escolar, os problemas na hora de dormir e os relacionados a despertares noturnos permanecem freqüentes, ocorrendo em até 30% das crianças. 

Nesta idade podem surgir medos mais relacionados à realidade (medo de ladrões, por exemplo). Outro problema que pode acontecer é o tempo de sono insuficiente, decorrente da crescente independência da criança. Televisão e outros monitores eletrônicos têm sido associados com dificuldades para adormecer e manter o sono, assim como à maior prevalência de ansiedade e pesadelos noturnos. Durante este período da vida começa a se manifestar a preferência circadiana individual (matutinos x vespertinos). Esta tendência deve ser percebida e respeitada na medida do possível, ou seja, preservando o tempo total de sono. 

Na puberdade, ocorre um aumento na necessidade de sono e um atraso de aproximadamente 2 horas no horário de dormir, provavelmente pela associação de um componente biológico a questões socioculturais. Além disso, a variação no ciclo sono / vigília entre o fim de semana e os dias de semana, que já ocorria no escolar, acentua-se nesta fase. Embora a necessidade de sono do adolescente seja de, no mínimo, 9 horas por noite, estudos mostram que a maioria dos adolescentes dorme em torno de 7 horas por noite, resultando numa privação crônica de sono. Todos esses fatores combinados podem produzir sonolência significativa durante o dia e conseqüente prejuízo no humor, memória, atenção e aproveitamento escolar.

* Médica responsável pelo ambulatório e laboratório do sono do HCPA
Preceptora do Programa de Residência Médica em Pneumologia, com ênfase em transtornos do sono
Doutora em Pneumologia pela UFRGS
Professora do Programa de Pós-graduação em Ciências Pneumológicas da  UFRGS

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