sábado, 11 de fevereiro de 2012

Catarata na Infância


A catarata é a opacificação do cristalino, podendo ser parcial ou total. Na presença da catarata a imagem não se forma adequadamente na retina, impedindo o desenvolvimento visual adequado, que ocorre nos primeiros anos de vida, principalmente nos primeiros quatro meses (período crítico do desenvolvimento visual). Desta forma, a catarata na infância, se não diagnosticada e tratada precocemente, determina diminuição da acuidade visual de forma irreversível (ambliopia).

As cataratas são responsáveis por 5 a 20 % dos casos de cegueira em crianças a niveis mundiais, e ainda em números maiores em paises subdesenvolvidos. Estudos epidemiológicos demonstram uma prevalência de cataratas congênitas na faixa de 1.2 a 6.0 casos por 10.000 nascidos vivos. No Brasil ainda não temos estatísticas confiáveis.

Embora as causas de catarata infantil gere uma lista extensa, um número expressivo de casos ocorre em crianças que já apresentam sinais de outra anormalidade sistêmica, podendo-se assim inferir-se a etiologia.  Já, em crianças hígidas, grande parte destes casos a catarata é idiopática, porém a herança autossômica dominante representa a maioria (apresenta expressividade variável, fazendo que muitas vezes os pais não saibam que são portadores).

Na busca da etiologia, é util fazer a distinção entre o envolvimento uni ou bilateral. As bilaterais são geralmente hereditárias e podem ser associadas a doenças sistêmicas (70%  dos casos).  Já as unilaterais, são, na sua maioria, oriundas de disgenesias oculares, e, como regra, não estão associadas a doenças sistêmicas (a exceção da Rubéola Congênita, que pode causar catarata unilateral). Importante lembrar o efeito dos cortiscosteróides implicados no desenvolvimento de catarata (e glaucoma, com grande freqüência, principalmente no uso ocular).

As cataratas entram no diagnóstico diferencial das leucocorias (reflexo branco na pupila). 50 % das cataratas da infância apresentam-se já ao nascimento (catarata congênita), podendo ser detectadas pelo Teste do Reflexo Vermelho (Teste do Olhinho). O nistagmo e estrabismo também podem ser determinados pela opacificação do cristalino, entretanto, estes sinais já são de aparecimento mais tardio, levando a um pior prognóstico visual.

Dependendo das características da opacificação do cristalino pode-se optar por tratamento cirúrgico, uso de óculos ou  tratamento da ambliopia apenas. As cataratas pequenas, parciais, que não acometem significativamente o eixo visual, não necessariamente precisam ser removidas. O paciente pode ser tratado através de oclusão e/ou uso de óculos. Já as cataratas mais densas requerem a pronta intervenção cirúrgica. Nestes casos, quando a catarata é unilateral, a ambliopia é muito mais grave, e por isso tem-se maior urgência no tratamento (dentro de 30-40 dias de vida). 

De forma geral, quando a cirurgia é realizada no primeiro ano de vida, a lente intra-ocular não é implantada, e a criança é opticamente reabilitada através de óculos ou lentes de contato, além da oclusão. As lentes intra-oculares são bem toleradas quando implantadas após os 2 anos de idade.

A ambliopia instala-se muito rapidamente nas crianças com catarata, e desta forma, o diagnóstico precoce é fundamental, permitindo tempo hábil no tratamento, minimizando os efeitos da ambliopia.

Giovanni M. Travi
CRM 23.483
Oftalmologista Pediátrico

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