quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down)

 Rafael Fabiano Machado Rosa
Paulo Ricardo Gazzola Zen

Definição

A síndrome de Down é causada pela presença de três cópias do cromossomo 21. Esta pode ocorrer de diferentes formas:

- Trissomia livre do cromossomo 21: esta é a constituição cromossômica mais frequentemente observada em indivíduos com síndrome de Down (mais de 90%). Ela se caracteriza pela presença de um cromossomo 21 adicional inteiro. Exemplo: 47,XX,+21.
- Translocações: estas são observadas em cerca de 5% dos pacientes. As translocações são defeitos estruturais envolvendo o cromossomo 21. Usualmente se constituem das chamadas translocações Robertsonianas (que ocorrem entre cromossomos acrocêntricos, que são aqueles onde o centrômero fica próximo da extremidade do cromossomo – os de número 13, 14, 15, 21 e 22), sendo a mais comum aquela que envolve os cromossomos 14 e 21. Exemplo: 46,XX,der(14;21)(q10;q10),+21.
- Mosaicismo: caracteriza-se pela presença de uma constituição cromossômica composta de mais de uma linhagem celular. Ele é observado em 3% dos casos. Usualmente, verifica-se a presença de uma linhagem celular com trissomia livre do cromossomo 21 e uma linhagem celular normal. Exemplo: 47,XX,+21/46,XX.

Epidemiologia

A síndrome de Down é considerada a trissomia mais frequentemente observada ao nascimento envolvendo cromossomos autossômicos. Sua prevalência é estimada entre 1 para 650 nascidos vivos, sendo que não existe diferença na frequência entre os diferentes grupos étnicos. É importante lembrar que a maior parte dos fetos com síndrome de Down não chega ao nascimento, pois são abortados espontaneamente.

Manifestações clínicas

A síndrome usualmente possui uma apresentação clínica distinta, frequentemente identificada já ao nascimento. Hoje na literatura há a descrição de mais de 100 achados clínicos diferentes, sendo que nenhum deles, contudo, é patognomônico para o diagnóstico. Destacam-se entre eles:

- Craniofaciais: braquicefalia, fendas palpebrais oblíquas para cima, pregas epicânticas, raiz nasal baixa e larga, manchas de Brushfield, orelhas pequenas com sobredobramento dos ramos horizontais das hélices, boca semi-aberta com língua protusa;
- Genitália: pênis pequeno e criptorquidia;
- Membros: mãos pequenas e largas, prega palmar única, clinodactilia de quintos dedos das mãos, aumento do espaço entre primeiro e segundo pododáctilos com prega plantar entre os mesmos;
- Neurológico: hipotonia e retardo de desenvolvimento neuropsicomotor;
- Articular: frouxidão articular/hiperflexibilidade.

Quanto ao envolvimento de órgãos internos, destacam-se as cardiopatias congênitas, em especial os defeitos septais (como a comunicação interventricular e o defeito de septo atrioventricular), que são consideradas uma das principais causas de óbito entre os pacientes com síndrome de Down. Elas são observadas em cerca de metade dos pacientes. Por isso, a avaliação cardiológica é considerada fundamental (especialmente através da ecocardiografia) e deve ser sempre realizada no momento da suspeita ou do diagnóstico clínico da síndrome.

Hipotireoidismo é frequente, sendo que avaliações periódicas da função tireoidiana são recomendadas. A primeira avaliação é realizada já no teste do pezinho. O hipotireoidismo pode ser congênito ou se estabelecer ao longo da vida.

A presença de instabilidade atlantoaxial pode levar a complicações neurológicas graves, como a tetraplegia. Assim, recomenda-se avaliação através da radiografia de coluna a partir do segundo ano de vida.
Pacientes com síndrome de Down frequentemente apresentam anormalidades oftalmológicas (como estrabismo e nistagmo) e otorrinolaringológicas (como otites de repetição e déficit auditivo), sendo que se beneficiam da avaliação através destas especialidades. Eles possuem risco aumentado também de leucemia e doenças respiratórias (como pneumonia).

Malformações gastrointestinais são observadas em 15% dos pacientes e incluem imperfuração anal, doença de Hirschhsprung, pâncreas anular e atresia duodenal. Mais recentemente é descrita na literatura uma associação entre doença celíaca e síndrome de Down.

Uma das principais formas de tratamento consiste da estimulação precoce que, como o nome diz, deveria sempre ser iniciada o mais cedo possível. Ela deve ser individualizada a cada caso.
É importante lembrar que não existe “grau” em síndrome de Down. Ou a criança tem a síndrome ou não. Pacientes apresentando uma constituição cromossômica em mosaico tendem a ter uma apresentação clínica mais branda; contudo, isto não é a regra.

Diagnóstico


    Este usualmente é realizado através do exame de cariótipo a partir de uma amostra de sangue periférico. Este é importante tanto para a confirmação diagnóstica como para o devido aconselhamento genético do paciente e de sua família.

Etiologia e Aconselhamento Genético

    A origem da síndrome de Down, tal como nas demais trissomias, associa-se a uma idade materna avançada (superior a 35 anos). Isto se relaciona ao fenômeno de não-disjunção (separação desigual dos cromossomos) que ocorre principalmente durante a meiose I na gametogênese materna. Isto leva à formação de fetos com trissomia livre do cromossomo 21. Nestes casos, não há indicação de cariotipagem dos pais.
    Anomalias cromossômicas do tipo translocações podem surgir como alterações novas (de novo) ou serem herdadas de um dos pais. Por isso, nestes casos, sempre existe a indicação de avaliação cariotípica dos pais. Por outro lado, o mosaicismo é sempre um evento pós-zigótico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário