quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Citomegalovírus e o RN

Clarissa Gutierrez Carvalho

A infecção primária ocorre em 1-3% das grávidas, com uma taxa de infecção fetal de 30-40%. Permanecerão assintomáticos 80% dos bebês com infecção congênita. Contudo, cerca de 17% dos bebês com CMV sintomático resultam de reativação da doença na mãe. É comum nos bebês com HIV, podendo ser um indicador de progressão rápida da doença, assim é importante a triagem de CMV no bebê exposto ao HIV.

No caso de infecção materna primária documentada, o PCR do líquido amniótico pode determinar se o feto é acometido, contudo o aconselhamento sobre um achado positivo é difícil, pois 85% dos fetos infectados terão apenas doença leve ou serão assintomáticos.

A doença congênita precoce pode se apresentar de modo fulminante, com mortalidade de 30%. Os sinais incluem petéquias, púrpura, hepatesplenomegalia, icterícia, prematuridade e manchas na pele tipo “muffin de blueberry”, que representam hematopoiese extra-medular. Ocorre também anemia, plaquetopenia, aumento de transaminases e da bilirrubina direta - a icterícia pode surgir já ao nascimento ou como uma continuação da fisiológica. Outra forma de apresentação, mais leve, é caracterizada por restrição de crescimento, microcefalia, com ou sem calcificações intracerebrais (classicamente periventriculares) e coriorretinite. A perda auditiva é a sequela mais frequente – e lembrada. A doença pode ser inicialmente assintomática e evoluir com anormalidades de desenvolvimento, perda auditiva, retardo mental, espasticidade motora e microcefalia adquirida.

A infecção perinatal pode se manifestar de 4 a 12 semanas após a contaminação, seja pela exposição intraparto ou por excreção no leite, sangue infectado ou nosocomial. Enquanto anormalidades neurológicas em longo prazo são raramente vistas, uma síndrome de infecção aguda incluindo neutropenia, anemia, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia e perda auditiva podem ser encontradas, principalmente em prematuros. O CMV também foi associado a pneumonite em prematuros com menos de 4 meses.

O CMV deve ser suspeitado em qualquer criança com sintomatologia típica ou se história materna de soroconversão ou doença tipo mononucleose na gestação. O diagnóstico é feito com a identificação do vírus por PCR ou cultura em urina, saliva, sangue, secreções respiratórias e a infecção é definida como congênita se dentro das 2 primeiras semanas de vida e perinatal se negativa nas primeiras semanas e positivar após 4 semanas de vida. O sangue pode ser o primeiro a positivar, mas a urina é mais sensível - e se for negativa por 4 semanas, descarta a infecção.  Já a determinação de anticorpos séricos tem limitação, se bem que títulos IgG negativos em mãe e filho são suficientes para excluir infecção. Bebês não infectados apresentam declínio dos títulos dentro de 1 mês e indetectável entre 4 a 12 meses – ao contrário dos infectados, que terão níveis crescentes e surgimento de IgM (ausente ao nascimento).

O paciente deve passar por avaliação oftalmológica, teste auditivo, hemograma, função hepática, eco cerebral - sendo coletado líquor e avaliação com RNM ou TC de crâneo se suspeita diagnóstica se confirmar. O tratamento se dá com ganciclovir quando o paciente é imunocomprometido, mas não há evidências fortes para indicar o tratamento no RN.

Embora o leite materno seja uma fonte comum de infecção perinatal, a infecção sintomática é rara, especialmente em bebês a termo. Assim, a proteção se dá pela passagem de anticorpos IgG transplacentária ou pelo leite. Contudo, não é claro se mães de prematuros menores de 34 semanas devem amamentar sem screening prévio de CMV. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário