quarta-feira, 4 de abril de 2012

Autismo infantil


Ricardo Sukiennik

Autismo é definido como um distúrbio complexo do desenvolvimento que tem como características básicas atraso da comunicação (verbal e não verbal), falta de reciprocidade social e padrões de comportamento repetitivos acompanhados de estereotipias. Este distúrbio faz parte dos transtornos invasivos do desenvolvimento (caracterizados por dificuldades de comunicação, principalmente com atraso da aquisição da linguagem). Este distúrbio pode ser secundário a várias etiologias e pode apresentar graus variáveis de severidade. O déficit cognitivo é achado comum.
Existem algumas teorias sobre etiologia, mas a maioria dos autores defende uma base neurobiológica com um componente genético e influência ambiental variável. O mecanismo celular/bioquímico ou metabólico ainda permanece desconhecido.
Existe, dependendo dos critérios utilizados, uma prevalência estimada em 4 a 13 casos para cada 10.000 habitantes, ocupando a terceira causa de distúrbios do desenvolvimento, sendo mais frequente, inclusive, que a Síndrome de Down.
O diagnóstico, na ausência de um marcador biológico, baseia-se no quadro clínico podendo ser variável e sem a necessidade de todos os sinais estarem presentes.
Chama atenção, além da falta de reciprocidade social, por vezes detectado nos primeiros meses de vida, dificuldade acentuada de comunicação (também de aparecimento precoce no desenvolvimento da criança), os padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades, por vezes  relatado pelos familiares como um objeto que acompanha a criança em todas as atividades (por exemplo, “escova”/”gaiola”). É comum o interesse por pequenos mecanismos, de brinquedos ou relógios em atividades que consomem um tempo exagerado. A falta de interação social, em crianças maiores e adolescentes, é caracterizada pela dificuldade de interpretação de estímulos sociais, falta de socialização e é comum a interpretação equivocada de como são “vistos’ por outras pessoas. Esta característica determina, na maioria das vezes, a ausência de relações sociais e afetivas duradouras.
O diagnóstico clínico deve seguir os critérios do DSM-IV, com alta sensibilidade e especificidade e que ajudam a diferenciar em subtipos de distúrbios associados do espectro autista como: Síndrome de Asperger, Transtorno desintegrativos da infância, Transtorno invasivo da infância não especificado e Síndrome de Rett.
O diagnóstico, ainda que baseado na avaliação clínica deve ser feito por equipe multidisciplinar e recomenda-se, uma vez feita a suspeita, de utilização de instrumentos específicos como o Childhood Autism Rating Scale (CARS), Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R) e Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS).
Assim como o diagnóstico o tratamento também deve ser multidisciplinar, com foco nas alterações de comportamento aliados a técnicas de desenvolvimento da linguagem/comunicação. É comum a necessidade de uso de neurolépticos e anti-psicóticos atípicos para controle de sintomas como agressividade, agitação psicomotora, automutilação e estereotipias (o uso de antipssicóticos atípicos como Risperidona, deve ser cercado de cuidados em pacientes com epilepsia associada já que podem desencadear descontrole de crises).
Mesmo nos melhores centros o prognóstico em longo prazo ainda é considerado pobre já que em torno de 60 a 70 %dos pacientes permanece, na vida adulta, com déficit cognitivo e social importantes e elevado grau de dependência de seus cuidadores.

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