sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tuberculose na Infância

Leonardo A. Pinto, pneumologista pediátrico

Na criança, após a contaminação com o bacilo da tuberculose (TB), o paciente pode evoluir de pelo menos três formas diferentes, dependendo de fatores imunológicos e genéticos. Na maior parte dos casos (90%) o agente pode ser eliminado após algumas semanas. Em algumas crianças (5%) a doença pode ficar latente por um grande período de tempo (TB latente), com risco de desenvolvimento da TB pós-primária na idade adulta. Porém um grupo de pacientes (5%) pode manifestar a doença através da tuberculose primária, que se apresenta em geral em meses após a contaminação.

Devido à dificuldade em identificar o Micobacterium tuberculosis em amostras de crianças com TB primária, o diagnóstico da TB doença é mais difícil, fundamentado essencialmente em bases clínicas, epidemiológicas e radiológicas, associados à interpretação do teste tuberculínico (TT). As manifestações clínicas podem não ser evidentes na tuberculose primária, mas os sintomas mais freqüentes são febre persistente >15 dias, tosse crônica e perda de peso. Casos de pneumonia com evolução lenta (>2 semanas), sem resposta a antimicrobianos também devem levar a suspeita de TB pulmonar.

O TT e o RX de tórax estão indicados em toda criança com suspeita de TB. O aspecto mais comum na radiografia de tórax da criança com TB primária são linfonodomegalias medistinais, opacidades persistentes e /ou atelectasias que não melhoram após o uso de antibióticos. Nos adolescentes, o padrão clínico-radiológico pode ser semelhante a TB pós-primária, mais freqüente em adultos (como infiltrados apicais e/ou cavitação ou derrames pleurais).

O diagnóstico na criança deve ser feito através do sistema de pontuação, que apresenta sensibilidade e especificidade elevadas. O sistema de pontuação utiliza quatro critérios principais: 1. apresentação clínica; 2. radiológica; 3. contato com TB; 4. teste tuberculínico; além do estado nutricional. Cada um dos quatro itens principais pode somar 10-15 pontos quando o item é sugestivo da doença. O paciente que somar 40 pontos ou mais deve ser considerado como provável diagnóstico de TB.

O lavado gástrico (LG) não deve ser empregado como rotina e somente está indicado se a pontuação baixa para TB e houver a possibilidade de realizar cultura. A broncoscopia  com lavado broncoalveolar pode ser útil em casos específicos. Já a indução de escarro é um procedimento menos invasivo e tem mostrado rendimento superior ao do LG, mas também não é indicado rotineiramente na criança.

Com relação ao tratamento, a principal mudança proposta recentemente pelo ministério da saúde foi de introduzir um quarto fármaco, o Etambutol (E), na fase de ataque (esquema de 2 meses de Rifanpicina (R), Isoniazida (H), Pirazinamida (Z) e E / e 4 meses de RH). Para crianças (com menos de 10 anos), ainda deve ser recomendado o tratamento com três medicamentos: R (10 mg/kg), H (10 mg/kg) e Z (35 mg/kg), considerando os possíveis efeitos adversos do E.

Investigação dos contatos e tuberculose latente (TBL)
A radiografia de tórax e o TT devem ser feitos em todo contato de TB pulmonar ativa bacilífera. Em crianças contatos de TB pulmonar, sem sintomas e com radiografia de tórax normal, o TT é considerado positivo se a enduração cutânea for ≥5 mm (crianças não vacinadas com BCG ou vacinadas > 2 anos) ou ≥10 mm (crianças vacinadas com BCG ≤2 anos). Nos imunodeprimidos, o TT ≥5 mm é considerado positivo, independentemente do status vacinal por BCG. Toda criança com contato com adulto bacilífero e TT positivo deve ser considerado como portador de TB latente, desde que o quadro clínico e radiológico não apresente alterações. O tratamento da TBL é a H na dose de 5-10 mg/kg de peso até 300 mg/dia por 6 meses. A possibilidade do diagnóstico de TB doença deve ser sempre afastada antes de ser iniciado o tratamento da TBL.


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