segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Convulsão Febril

Alessandra Marques Pereira

A convulsão febril (CF) ocorre entre os 3 meses e 5 anos de idade (primeira entre 18 e 22 meses) associada à febre, na ausência de infecção do sistema nervoso central, alteração metabólica ou de outra causa neurológica definida.

Pode ser: a) simples (uma única crise tônico-clônica generalizada com duração geralmente ao redor de 5 minutos) ou b) complexa ou complicada (crises focais e/ou com duração maior que 15 minutos e/ou se recorrer em menos de 24 horas e/ou com manifestações neurológicas pós-ictais). A mais comum é a do tipo simples. Os pais podem referir hipotonia que é geralmente precedida por uma fase clônica rápida.

A fisiopatogenia baseia-se no baixo limiar do córtex cerebral em desenvolvimento, a susceptibilidade da criança a infecções, a propensão a ter febre alta e o componente genético. Acredita-se que o rápido aumento da temperatura seja um fator desencadeante mas até hoje não está claro se isso é mais importante do que a alta temperatura atingida.

Uma história cuidadosa deve ser feita incluindo outras causas como trauma ou intoxicação e história familiar positiva para convulsões. A descrição completa da crise também é importante.

O exame físico deverá incluir a pesquisa de possíveis focos infecciosos. A presença ou ausência de sinais meníngeos e o exame da fontanela são etapas fundamentais do exame neurológico. É importante descartar infecção do sistema nervoso central causando crises convulsiva associadas à febre.

A punção lombar está indicada toda vez que houver suspeita clínica de meningite (letargia, rigidez de nuca ou fontanela abaulada).
A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que, após a ocorrência da primeira crise com febre em lactentes abaixo de 12 meses, a realização da punção lombar deve ser fortemente considerada e, em uma criança entre 12 e 18 meses, a indicação, apesar de não ser tão forte, ainda assim deve ser considerada. Acima de 18 meses, a punção lombar é recomendada na presença de sinais e sintomas meníngeos, ou quando existe suspeita clínica de infecção intracraniana.

Exames laboratoriais de rotina devem ser feitos como parte da avaliação do quadro infeccioso e a fim de descartar distúrbios metabólicos (eletrólitos e glicemia). Exames radiológicos e de neuroimagem, tais como tomografia computadorizada e ressonância magnética, raramente podem ser úteis e não devem ser indicados de rotina.

O eletrencefalograma (EEG) não contribui com informação prognóstica. Recomendado nas seguintes situações: suspeita de doença cerebral subjacente, presença de atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e presença de déficit neurológico. Não está indicado na avaliação de uma criança neurologicamente saudável que tenha uma primeira convulsão febril simples.

Tratamento profilático: a CF é de caráter benigno e a maioria das crianças apresenta apenas um único episódio durante a vida. A profilaxia deve ser considerada levando-se em conta os fatores de risco para recorrência de crises febris: idade em que ocorre a primeira convulsão febril (antes de 1 ano), a presença de história familiar de convulsões (febris ou não) e a duração da febre antes da crise (quanto menor, maior o risco).
O uso de antitérmicos é ineficaz para a prevenção de novos episódios.

Fonte:
1.    Steering Committee on Quality Improvement and Management, Subcommittee on Febrile Seizures American Academy of Pediatrics. Febrile seizures: clinical practice guidelines for the long-term management of the child with simple febrile seizures. Pediatrics 2008;121:1281–6.
2.    Guerreiro MM. Treatment of febrile seizures. J Pediatr  2002;78 Suppl 1:S9-S13.

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